domingo, 20 de setembro de 2009

Um pouco sobre Varnhagen e sua obra

Filho da portuguesa Maria Flávia de Sá Magalhães e de Ludwig Wilhelm Varnhagen, um engenheiro militar alemão contratado pela Coroa para construir os altos fornos da Real Fábrica de Ferro de Ipanema, na região de Sorocaba, na então Capitania de São Paulo, estudou no Real Colégio Militar da Luz, em Lisboa, e iniciou a carreira militar à época das Guerras Liberais, como voluntário nas tropas de D. Pedro IV de Portugal que lutavam contra D. Miguel I de Portugal.
Escreveu Notícia do Brasil, seu primeiro trabalho de história, entre 1835 e 1838. Suas pesquisas na matéria levam-no a localizar o túmulo de Pedro Álvares Cabral na Igreja da Graça, em Santarém. Foi admitido como sócio-correspondente na Academia de Ciências de Lisboa. Formou-se como engenheiro militar em 1839, na Real Academia de Fortificação.
Retornou ao Brasil em 1840, entrando para o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro em 1841, exercendo o cargo de primeiro-secretário. Em 1844 obteve a nacionalidade brasileira, podendo ser admitido na carreira diplomática. Serviu na legação de Lisboa e na de Madrid, obtendo reconhecimento como historiador com a publicação da História Geral do Brasil em dois volumes (1854-1857). Foi destacado para o Paraguai (1858), tendo servido ainda na Venezuela, em Nova Granada (atual Colômbia), no Equador, no Chile, no Peru e nos Países Baixos.
Fonte: Wikipédia
Um Olhar Crítico sobre a História de Varnhagem
Varnhagen é o responsável pela construção da identidade do Brasil no século XIX. Sua obra História Geral do Brasil foi construída a luz do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro sobre o patrocínio do próprio imperador D. Pedro II. Desse modo, a obra de Varnhagen consiste em um manual que cujo objetivo era construir a imagem do Brasil sobre a óptica do colonizador português. Seus escritos mostram uma obra completamente voltada para os valores do homem branco que, segundo ele, era o responsável pelo processo de civilização do território brasileiro.
Varnhagen construiu, a partir de documentação oficial, a estruturação da História do Brasil a partir de 1500 até meados do século XIX. Nesta perspectiva, sua obra faz grande exaltação ao colonizador, com narrativas factuais e a transformação de simples personagens em grandes heróis. Sua História Geral do Brasil apresenta um conjunto de informações muito detalhadas onde, em vários momentos, se prolonga em minúcias e temáticas cuja importância não era tão relevante. Na sua visão lusitana da colonização são feitas "honrarias" ao português porque ele teria trazido a civilização para o Brasil, dando a um povo selvagem e bárbaro fé, lei e rei. Ou seja, tornando-os homens civilizados conforme os padrões europeus. Entretanto, sua História Geral do Brasil não valorizou a contribuição dos índios para a cultura brasileira – que eram apontados por ele apenas como selvagens ou bárbaros – e negou “totalmente” o papel do negro em nossa história. Em outras palavras, a história construída por Varnhagen era totalmente voltada para a exaltação do branco colonizador.
Por: Francisco Vilanova

domingo, 6 de setembro de 2009

Darcy Ribeiro

VIDA, OBRA, PENSAMENTO
Fábio Pereira

Biografia*

Darcy Ribeiro nasceu em Minas (1922), no centro do Brasil. Formou-se em Antropologia em São Paulo (1946) e dedicou seus primeiros anos de vida profissional ao estudo dos índios do Pantanal, do Brasil Central e da Amazônia. Neste período fundou o Museu do Índio e criou o Parque Indígena do Xingu. Escreveu uma vasta obra etnográfica e de defesa da causa indígena.

Nos anos seguintes (1955) dedicou-se à educação primária e superior. Criou a Universidade de Brasília e foi Ministro da Educação. Mais tarde foi Ministro-Chefe da Casa Civil e coordenava a implantação das reformas estruturais, quando sucedeu o golpe militar de 64, que o lançou no exílio.

Viveu em vários países da América Latina onde, conduzindo programas de reforma universitária, com base nas idéias que defende em A universidade necessária. Foi assessor do presidente Salvador Allende, do Chile, e Velasco Alvarado, do Peru. Escreveu neste período os cinco volumes de seus Estudos de Antropologia da Civilização (O processo civilizatório, As Américas e a Civilização, O dilema da América Latina, Os Brasileiros: 1. Teoria do Brasil, e Os índios e a Civilização), que têm 96 edições em diversas línguas. Neles propõe uma teoria explicativa das causas do desenvolvimento desigual dos povos americanos.

Ainda no exílio, começou a escrever os romances Maíra e O mulo, e já no Brasil escreveu dois outros: Utopia selvagem e Migo. Publicou Aos trancos e barrancos, que é um balanço crítico da história brasileira de 1900 a 1980. Publicou também uma coletânea de ensaios insólitos: (Sobre o óbvio), e um balanço de sua vida intelectual: Testemunho. Edita juntamente com Berta G. Ribeiro a Suma Teológica brasileira. Seu último livro, publicado pela Biblioteca Ayacucho, em espanhol, e pela Editora Vozes, em Português, é A fundação do Brasil, um compêncio de textos históricos dos séculos XVI e XVII, comentados por Carlos Moreira, e precedidos de um longo ensaio analítico sobre os primórdios do Brasil.

Retornando ao Brasil em 1976, voltou a dedicar-se à educação e à política. Elegeu-se vice-governador do estado do Rio de Janeiro, foi secretário da Cultura e Coordenador do Programa de Educação, com o encargo de implantar 500 CIEPs que são grandes escolas de turno completo para 1000 crianças e adolescentes. Criou, então, a Biblioteca Pública Estadual, a Casa França-Brasil, a Casa Laura Alvin, o Centro Infantil de Cultura de Ipanema. E o Sambódromo, em que colocou 200 salas de aula para fazê-lo funcionar também como uma enorme escola primária.

Elegeu-se senador da República, função que exerce defendendo vários projetos, entre eles, uma lei de trânsito para defender os pedestres contra a selvageria dos motoristas; uma lei dos transplantes que, invertendo as regras vigentes, torna possível usar órgãos dos mortos para salvar os vivos; uma lei contra o uso vicioso da cola de sapateiro que envenena e mata milhares de crianças. Combate energicamente no Congresso para que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação seja mais democrática e mais eficaz. Publica pelo Senado a revista Carta, onde os principais problemas do Brasil e do mundo são analisados e discutidos. Foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras.

Conta entre suas façanhas maiores haver contribuído para o tombamento de 98 quilômetros de belíssimas praias e encostas, além de mais de mil casas do Rio antigo. Colaborou na criação do Memorial da América Latina, edificado em São Paulo com projeto de Oscar Niemeyer. Gravou um disco na série mexicana "Vozes da América". E mereceu títulos de Doutor Honoris Causa da Sorbonne e das Universidades de Montevidéu, Copenhague e da Venezuela Central.




ESTUDOS DE ANTROPOLOGIA DA CIVILIZAÇÃO

Com livro O Processo Civilizatório, publicado em 1972, Darcy Ribeiro trouxe para o âmbito de nossas discussões, os grandes problemas da evolução das sociedades humanas. Ele dá início aos estudos sobre antropologia das civilizações. Sua motivação é de tornar compreensível a formação dos povos americanos. Com argumentos novos e críticos busca compor um esquema coerente e lógico da história da humanidade. Segundo Darcy, esta tarefa foi requisito prévio indispensável ao estudo da formação dos povos americanos.

Ele analisa o surgimento das formações sócio-culturais que se impuseram desde 10.000 anos, com o objetivo de entender as causas do desenvolvimento sócio-econômico desigual e quais as perspectivas para os povos ditos atrasados.

Segundo Darcy, tornava-se necessário a formulação de um esquema das etapas evolutivas para, assim, ser possível uma tipologia para poder classificar os diversos agrupamentos que se uniram para formar as sociedades nacionais americanas de hoje. Pergunta-nos:

Como classificar, uns em relação aos outros, os povos indígenas que variavam desde altas civilizações até hordas pré-agrícolas e que reagiram à conquista segundo o grau de desenvolvimento que haviam alcançado? Como situar em relação àqueles povos e aos europeus, os africanos desgarrados de grupos em distintos graus de desenvolvimento para serem transladados à América como mão-de-obra escrava? Como classificar os europeus que regeram a conquista? Os ibérios que chegaram primeiro e os nórdicos que vieram depois - sucedendo-os no domínio de extensas áreas - configuravam o mesmo tipo de formação sociocultural? Finalmente, como classificar e relacionar as sociedades nacionais americanas por seu grau de incorporação aos moldes de vida da civilização agrária-mercantil e, já agora, da civilização industrial? (1972, p.02)

Nesta perspectiva, Darcy Ribeiro surge ganhando uma projeção mundial, atuando intensamente nas discussões dos grandes problemas da evolução da humanidade.

Como vimos, em sua teoria evolucionista, Darcy busca compor um discurso que nos explique e nos ajude a perceber para onde estamos caminhando, que futuro podemos ter. Uma coisa ele deixa claro: não somos iguais; nisto parece comungar com o idéia de Simón Bolívar de que, nós, latino-americanos, constituímos um pequeno gênero humano.

Posterior ao seu trabalho "O Processo Civilizatório", Darcy Ribeiro escreveu As Américas e a civilização, publicado primeiro na Espanha em 1969, pois Darcy, neste período, se encontrava no exílio.

Tentar descrever a significação desta obra na verdade nos parece uma missão nada simples. Com o objetivo central de classificação dos povos americanos ele realiza um trabalho de proporções inigualáveis. Justifica:

Nosso estudo é uma tentativa de integração das abordagens antropológica, sociológica, econômica, histórica e política em um esforço conjunto para compreender a realidade americana de nossos dias. Cada uma dessas abordagens ganharia em unidade se isolada das demais, mas perderia em capacidade explicativa. Acresce, ainda, que existem demasiados estudos parciais desse tipo, quando não agrupados em obras de conjunto, ao menos dispersos em artigos, abordando os diversos problemas de que tratamos aqui. O que nos falta são esforços por integrá-los orgânicamente, a fim de verificar que contribuições podem oferecer às ciências sociais para o conhecimento da realidade que vivemos e para determinar as perspectivas de desenvolvimento que temos pela frente. (1970, pp. 03-04)

Encontramos aqui uma investigação combatente, questionadora dos fatores culturais, sociais e econômicos que precederam a formação das etnias nacionais americanas. Com este estudo Darcy Ribeiro buscava compreender o motivo do atraso das sociedades americanas; ele está convencido de que as teorias da história não nos explicam. Analisa ainda, as causas do desenvolvimento desigual das sociedades americanas. Dirá:

¿Por qué Haiti, que era la región más rica, más valioso del mundo, fue la madre de Norteamérica, que vivía de vender trigo? Para Haiti los negros producían su alimento, el más valioso del mundo, la mercancía más valiosa del mundo que era el azúcar. Entonces cuando visiten Francia y anden por los valles del Loira con aquellos grandes castillos bellíssimos, verán el oro divino de aquí, de Haiti. (1996. p. 22)

Neste livro, Darcy faz uma extensa análise antropológica dos fatores sociais, culturais e econômicos do período de formação das etnias nacionais. Desde a expansão européia, passando por uma profunda análise dos "Povos-Testemunhas" (os meso-americanos e andinos), ele segue delineando as transformações que deram origem aos "Povos Novos" (Brasil, Cuba, Venezuela). Estes povos, segundo Darcy:

Son nuevos en el sentido de que fueron hechos por haberse deshecho sus matrices. Sus indígenas fueron desindianizados, sus negros desafricanizados, sus europeos deseuropeizados, todo lo cual hace una cosa nueva que no tiene pasado glorioso y está volcado hacia el futuro. Son pueblos construídos con proletariado externo y parten de la inmensa dificultad de componer con gente desenraizada un gente nueva, un ser nuevo en la história. (1996, p. 23)

Os povos que migraram para as terras do Novo Mundo, Darcy os denominou Povos-Transplantados. Constituíram um número elevado de europeus que, juntamente com suas famílias, vieram parar aqui a fim de reconstruir suas vidas. Buscavam uma vida melhor, conquistar aqui o que em suas terras estavam impedidos de ter e ser. Darcy os caracteriza como:

Os Povos-Transplantados contrastam com as demais configurações sócio-culturais das Américas por seu perfil caracteristicamente europeu, expresso na paisagem que plasmaram, no tipo racial predominantemente caucasóide, na configuração cultural e, ainda, no caráter mais maduramente capitalista de sua economia, fundada principalmente na tecnologia industrial moderna e nacapacidade integradora de sua população no sistema produtivo e a maioria dela na vida social, política e cultural da nação. Por isto mesmo, êles se defrontam com problemas nacionais e sociais diferentes e têm uma visão do mundo também distinta dos povos americanos das outras categorias. (1970, p.456)

Outro ponto importante são as profundas diferenças que existiam entre os povos. Segundo Darcy não só são decorrentes das matrizes culturais predominantemente latina e católica, num caso, anglo-saxônica e protestante, no outro, como também decorrem do grau de desenvolvimento sócio-econômico.

Darcy segue mostrando os fatores de diferenciação consequentes do processo de formação étnico-nacional dos Povos-Transplantados. Dirá:

Na verdade, só historicamente e pelo exame acurado do processo civilizatório global no qual todos êstes povos se viram envolvidos e dos vários fatôres intervenientes na formação de cada uma dêles é que poderemos explicar sua forma e sua performance. Isto é o que nos propomos fazer com respeito aos Povos-Transplantados pelo exame, tanto da composição racial e cultural dos seus contingentes formadores, quanto do seu modo de aliciamento, de associação e de fusão em novas entidades étnico-nacionais. (1970, p.457)

O terceiro volume dos Estudos de Antropologia da Civilização, O dilema latino-americano, é um estudo sobre as diferentes situações entre as Américas. Darcy focaliza os contrastes existentes entre as Américas, ou seja, a convivência da riqueza e da pobreza. Neste sentido ele propõe novas tipologias para as classes sociais e para as estruturas de poder na América Latina.

Segundo Darcy:

Faltava ainda uma teoria da cultura, capaz de dar conta da nossa realidade, em que o saber erudito é tantas vezes espúrio e o não-saber popular alcança, contrastantemente, atitudes críticas, mobilizando consciências para movimentos profundos de reordenação social. Como estabelecer a forma e o papel da nossa cultura erudita, feita à criatividade popular, que mescla as tradições mais díspares para compreender essa nossa nova versão do mundo e de nós mesmos? Para dar conta dessa necessidade é que escrevi O dilema da América Latina. Ali, proponho novos esquemas das classes sociais, dos desempenhos políticos, situando-os debaixo da pressão hegemônica norte-americana em que existimos, sem nos ser, para sermos o que lhes convém a eles. (1996, p. 16)

No seu livro Os brasileiros: Teoria do Brasil publicado em 1965, Darcy inicia uma etapa, onde ele passa a aplicar à realidade brasileira as categorias e conceitos novos construídos nas obras anteriores. Começa explicar concretamente a complexa situação brasileira. Ao que nos parece, ocorre uma ruptura bastante clara com o cientificismo que marcava as obras daquele período.

Outro livro dos estudos Os índios e a civilização publicado em 1970, segundo Darcy Ribeiro, foi o resultado dos dados colhidos durante os dez anos em que passou no convívio com os índios nas diversas aldeias em que viveu. Para Darcy foi importante a troca de experiências com indigenistas, etnólogos e também com missionários. Outra ajuda de grande importância foi o acesso aos arquivos valiosos do Serviço de Proteção aos Índios, órgão no qual trabalhou como etnólogo.

No prefácio da obra explica:

O tema deste livro é o estudo do processo de transfiguração étnica, tal como êle pode ser reconstituído com os dados da experiência brasileira; e a apreciação crítica dos ingentes esforços para salvar povos que não foram salvos. Como alguns dêsses povos conseguiram sobreviver às compulsões a que estiveram sujeitos - e alguns outros ainda não experimentaram o contato com a civilização - confiamos que tanto as análises como as denúncias aqui contidas ajudem a definir formas mais justas e adequadas de relações com os índios, capazes de abrir-lhes pespectivas de sobrevivência e um destino melhor. (1970, p. 03)

Darcy define claramente a temática e os objetivos deste livro. Segundo ele é um estudo do processo de transfiguração étnica. Numa perspectiva crítica busca interpretar as pesquisas de forma sempre elevadas reconstituindo assim, os dados da experiência brasileira.

Após uma visão geral da situação das populações indígenas no final do século XIX e início do século XX, ele passa a refletir criticamente os ingentes esforços para atender os povos desprotegidos da América Latina. Daí passa a focalizar globalmente o que chama "o processo de transfiguração étnica". De maneira nova e original reconstitui a história natural das relações dos índios e os civilizados.

Com este livro, os "Estudos de Antropologia da Civilização", um conjunto de quase 2 mil páginas, Darcy Ribeiro encerra os escritos "preliminares" de seu grande projeto: tornar o Brasil explicável. Responder a pergunta: Por que o Brasil não deu certo?. Temos assim, um conjunto dos fundamentos teóricos que tornaram possível, o que segundo ele, foi o desafio maior que já se propôs, o livro: O povo brasileiro: A formação e o sentido do Brasil.

O POVO BRASILEIRO

Entender o sentido do que hoje somos mais que simples desafio parece se constituir num longo e minucioso trabalho. A reflexão sobre nossa formação nos envia às nossas origens, à história que como brasileiros fomos construindo. A realidade com a qual nos deparamos traz reflexões e pontos de vista oriundos de outros contextos que, para a nossa formação histórica, não são suficientes para nos explicar como povo.

Dentro desse desafio de nos tornar explicáveis Darcy Ribeiro propõe um conjunto teórico a partir da nossa contexto histórico. Ribeiro reune um conjunto de pesquisas que culminam em uma teoria do Brasil até então inédita. Subjacente à descrição desta teoria, está sua preocupação em entender por que caminhos passamos que nos levaram a distâncias sociais tão profundas no processo de formação nacional.

Retomando nossa história, Darcy começa a descrever como foi acontecendo a gestação do Brasil e dos brasileiros como povo. Nessa reconstituição ele enfatiza a confluência, ou seja, fala da união ocorrida entre portugueses, índios e negros, matrizes étnicas do brasileiro.

Um povo novo que, no dizer de Darcy, se enfrentam e se fundem, fazendo surgir, "num novo modelo de estruturação societária". Para ele, essa mestiçagem fez nascer um novo gênero humano. Nova gente, mestiça na carne e no espírito.

Segundo Darcy essa gente fez-se diferente:

Novo porque surge como uma etnia nacional, diferenciada culturalmente de suas matrizes formadoras, fortemente mestiça, dinamizada por uma cultura sincrética e singularizada pela redefinição de traços culturais delas oriundos. Também novo porque se vê a si mesmo e é visto como uma gente nova, um novo gênero humano diferente de quantos existam. Povo novo ainda, porque é um novo modelo de estruturação societária, que inaugura uma forma singular de organização sócio-econômico, fundada num tipo renovado de escravismo e numa servidão continuada ao mercado mundial. Novo, inclusive, pela inverossímil alegria e espantosa vontade de felicidade, num povo tão sacrificado, que alenta e comove a todos os brasileiros. (1996, p. 19)

Ao contrário do que se podia imaginar, um conjunto tão variado de matrizes formadoras não resultou num conjunto multiétnico. Diz:

... apesar de sobreviverem na fisionomia somática e no espírito dos brasileiros os signos de sua múltipla ancestralidade, não se diferenciaram em antagônicas minorias raciais, culturais ou regionais, vinculadas a lealdades étnicas próprias e disputantes de autonomia frente à nação. (1996, p. 20)

Com pequena exceção a grupos que sobrevivem de maneira isolada, que mantendo seus costumes, mas que, segundo Darcy, não podem afetar a macroetnia em que se encontram.

Dessa unidade étnica básica, ele não quer propor uma uniformidade entre os brasileiros, ele esclarece está questão distinguindo três forças diversificadoras: a ecológica, a econômica e a imigração. Estas formam os fatores que tornaram presente os diferentes modos de ser dos brasileiros, espalhados nas diversas regiões do território brasileiro.

Comenta:

A urbanização, apesar de criar muitos modos citadinos de ser, contribuiu para ainda mais uniformizar os brasileiros no plano cultural, sem, contudo, borrar suas diferenças. A industrialização, enquanto gênero de vida que cria suas próprias paisagens humanas, plasmou ilhas fabris em suas regiões. As novas formas de comunicação de massa estão funcionando ativamente como difusoras e uniformizadoras de novas formas e estilos culturais. (1996, p. 21)

Propõe assim que, apesar das diferentes matrizes racionais nas quais se formaram os brasileiros, também por questões culturais e por situações regionais, "os brasileiros se sabem, se sentem e se comportam como uma só gente, pertencente a uma mesma etnia". Formamos uma etnia nacional única, um só "povo incorporado".

Ressalta que este mesmo processo ocorreu consolidar os antagonismos sociais de caráter traumático. Diz:

A mais terrível de nossas heranças é esta de levar sempre conosco a cicatriz de torturador impressa na alma e pronta a explodir na brutalidade racista e classista. Ela é que encandesce, ainda hoje, em tanta autoridade brasileira predisposta a torturar, seviciar e machucar o pobres que lhes caem às mãos. (1996, p.120)

Para Darcy formamos a maior presença neo-latina no mundo. Somos uma "nova Roma". Segundo ele, melhor, porque racialmente lavada em sangue índio, em sangue negro. Esta nossa singularidade nos condena a nos inventarmos a nós mesmos e desafiados a construir uma sociedade inspirada na propensão indígena para o convívio cordial e para a reciprocidade e a alegria saudável do negro extremamente alterativo.

Será nesta perspectiva que nas linhas a seguir buscaremos esboçar, segundo os termos de Darcy Ribeiro, as principais articulações de como os brasileiros se vieram fazendo a si mesmos chegando a ser o que hoje somos.



1. Novo Mundo

Nesta parte Darcy trata das características iniciais do território brasileiro, das terras encontradas pelos portugueses que desembarcaram pela primeira vez no ano 1500 do calendário europeu. Estas terras que se encontravam povoadas por um grande número de povos indígenas que viviam por toda superfície do Brasil.

Segundo Darcy: "Eram, tão-só, uma miríade de povos tribais, falando línguas do mesmo tronco, dialetos de uma mesma língua, cada um dos quais, ao crescer, se bipartia, fazendo dois povos que começavam a se diferenciar e logo se desconheciam e se hostilizavam" (1996, p. 29).

Essas tribos aqui encontradas eram na sua maioria do tronco tupi, cerca de um milhão de índios. Elas se encontravam nos primeiros passos da revolução agrícola na escala da evolução cultural. Já conseguiam domesticar diversas plantas. Diz:

Além da mandioca, cultivavam o milho, a batata-doce, o cará, o feijão, o amendoim, o tabaco, a abóbora, o urucu, o algodão, o carauá, cuias e cabaças, as pimentas, o abacaxi, o mamão, a erva-mate, o guaraná, entre muitas outras plantas. Inclusive dezenas de árvores frutíferas, como o caju, o pequi etc. Faziam, para isso, grandes roçados na mata, derrubando as árvores com seus machados de pedra e limpando o terreno com queimadas. (1996, p. 32)

Com o cultivo da terra garantiam a subsistência do ano inteiro. É importante lembrar que as aldeias possuíam uma estrutura igualitária de convivência. Mas, por colonização de suas terras, as tribos se chocavam em guerra umas com as outras.

Além dos povos tupi, outros povos indígenas participaram da formação do povo brasileiro, como os Paresi, os Bororos, os Xavantes, os Kayapós, os Kaigangs e os Tapuias.

Ao contrário do modelo constituído pelas tribos indígenas na ilha Brasil, os portugueses invasores possuíam relações sociais baseadas na estratificação das classes, tinham uma velha experiência como civilização urbana. Com eles veio a Igreja católica que exerceu uma grande influência no processo de formação sócio-cultural do povo brasileiro. Na visão de Darcy, a Igreja exerceu um forte poder de mando, influenciando na vida dos indígenas e negros.

No contexto mundial Portugal entrava na disputa pelos novos mundos, animada pelas forças transformadoras da revolução mercantil. Diz Darcy:

Esse complexo do poderio português vinha sendo ativado, nas últimas décadas, pelas energias transformadoras da revolução mercantil, fundada especialmente na nova tecnologia, concentrada na nau oceânica, com suas novas velas de mar alto, seu leme fixo, sua bússola, seu astrolábio e, sobretudo, seu conjunto de canhões de guerra.

Era a humanidade mesma que entrava noutra instância de sua existência, na qual se extinguiriam milhares de povos, com suas línguas e culturas próprias e singulares, para dar nascimento às macroetnias maiores e mais abrangentes que jamais se viu. (1996, p.38)

Era a superação da estado feudal, o processo civilizatório no seu momento mercantil.

Para Darcy além de protagonizarem o inferno da expansão territorial político-econômico, se entitularam propagadores da unidade dos homens num só cristandade. Diz:

Eles se davam ao luxo de propor-se motivações mais nobres que as mercantis, definindo-se como os expansores da cristandade católica sobre os povos existentes e por existir no além-mar. Pretendiam refazer o orbe em missão salvadora, cumprindo a tarefa suprema do homem branco, para isso destinado por Deus: juntar todos os homens numa só cristandade, lamentavelmente dividida em duas caras, a católica e a protestante. (1996, p.39)

Para o índio que passava a conviver com aquela situação nova não foi nada simples compreender o que representava aqueles acontecimentos novos. O fato é que deste choque de culturas, como quisemos tornar mais claro no primeiro capítulo, surgiram concepções que os índios estupefatos por certo tempo sustentaram, como a de que os recém chegados eram deuses.

Para Darcy, de início, os índios ali na praia recebendo aqueles indivíduos tão estranhos estavam espantados. Seriam até mesmo gente de seu deus Maíra. Comenta:

Provavelmente seriam pessoas generosas, achavam os índios. Mesmo porque, no seu mundo, mais belo era dar que receber. Ali, ninguém jamais espoliara ninguém e a pessoa alguma se negava louvor por sua bravura e criatividade. Visivelmente, os recém-chegados, saídos do mar, eram feios, fétidos e infectos. Não havia como negá-lo. É certo que, depois do banho e da comida, melhoraram de aspecto e de modos. Maiores teriam sido as esperanças do que os temores daqueles primeiros índios. (1996, p. 42)

Como sabemos, a grande decepção não demorou para acontecer. Os indígenas perceberam que os recém chegados do mar não passavam de enganadores, mentirosos, lhes traziam pequenos utensílios e em troca lhes tiravam a alegria de viver, lhes enchiam de doenças que os dizimava ao milhares.

Darcy aponta para as duas perspectivas de mundo que se chocavam. Para os conquistadores essa nova terra era um espaço de exploração em ouro e glórias, na visão dos índios, (1996, pp. 44-45) "o mundo era um luxo de se viver, tão rico de aves, de peixes, de raízes, de frutas, de flores, de sementes, que podiam dar as alegrias de caçar, de pescar, de plantar e colher a quanta gente aqui viesse ter". Enquanto os brancos não mediam esforços para alcançar as riquezas que lhes interessavam, os índios acreditavam que a vida era dádiva de deuses bons. Na perspectiva de Darcy os brancos para os índios, eram aflitos demais. Para os brancos, a vida era uma sofrida obrigação em todos estavam condenados ao trabalho e subordinados ao lucro, enquanto que, para os índios, "a vida era uma tranquila função de existência, num mundo dadivoso e numa sociedade solidária".

Darcy preocupa-se em estudar o processo civilizatório, tendo em vista situar as nações germinais dos povos latino-americanos. Comenta:

Somos um rebento mutante, ultramarino, da Civilização Ocidental Européia, na sua versão iber-americana. Produto da expansão européia sobre as Américas, que destruindo milhares de povos modelou com o que restou deles uns poucos novos povos, multiformemente refeitos. Todos configurados como extensões da metrópole que regeu a colonização, impondo sua língua e suas singularidades. (1995, p. 11)

2. Gestação Étnica

A partir desse ponto Darcy vai desenvolvendo sua visão sobre as condições em que os brasileiros foram se formando, o que denominou cunhadismo. O cunhadismo, segundo ele, era a prática indígena que tornou possível incorporar estranhos às comunidades. Consistia em se oferecer uma moça índia como esposa aos recém-chegados. A partir de então, o estranho estabelecia uma relação de parentesco com os índios dessa família. Esse processo acabou influenciando decisivamente no processo de formação do brasileiro.

Para o colonizador essa prática tornou-se a condição de possibilidade para o processo de pilhagem nas terras conquistadas e também a própria condição da conquista das terras. Pois contavam com um enorme contingente de índios que segundo determinava o sistema de parentesco dos índios, deveriam pôr-se a serviço do parente.

Diz Darcy:

Como cada europeu posto na costa podia fazer muitíssimos desses casamentos, a instituição funcionava como uma forma vasta e eficaz de recrutamento de mão-de-obra para os trabalhados pesados de cortar paus-de-tinta, transportar e carregar para os navios, de caçar e amestrar papagaios e soíns.

A função do cunhadismo na sua nova inserção civilizatória foi fazer surgir a numerosa camada de gente mestiça que efetivamente ocupou o Brasil. É crível até que a colonização pudesse ser feita através do desenvolvimento dessa prática. Tinha o defeito, porém, de ser acessível a qualquer europeu desembarcado junto às aldeias indígenas. Isso efetivamente ocorreu, pondo em movimento um número crescente de navios e incorporando a indiada ao sistema mercantil de produção. Para Portugal é que representou uma ameaça, já que estava perdendo sua conquista para armadores franceses, holandeses, ingleses e alemães, cujos navios já sabiam onde buscar sua carga. (1996, p. 82)

Por fim, à medida em que a demanda de mão-de-obra foi aumentando, tiveram de passar da utilização do sistema de cunhadismo às guerras de captura dos índios.

Outras instituições que tiveram grande influência na gestação étnica do Brasil foram as donatarias e as reduções, onde os índios viviam submetidos às ordens dos missionários.

Na concepção de Darcy o Brasil tem sido, ao longo dos séculos, um terrível moinho de gastar gentes. O fato é que se gastaram milhões de índios, milhões de africanos e milhões de europeus. Comenta:

Foi desindianizando o índio, desafricanizando o negro, deseuropeizando o europeu e fundindo suas heranças culturais que nos fizemos. Somos, em consequência, um povo síntese, mestiço na carne e na alma, orgulhoso de si mesmo, porque entre nós a mestiçagem jamais foi crime ou pecado. Um povo sem peias que nos atenham a qualquer servidão, desafiado a frorescer, finalmente, como uma civilização nova, autônoma e melhor. (1995, p.13)

Nossa matriz negra foi responsável por remarcar o amálgama racial e cultural brasileiro com suas cores mais fortes. Pelo fato de aprenderem o português com que os capatazes lhes gritavam e que com o tempo passavam a se comunicar entre si, acabaram conseguindo aportuguesar o Brasil. Diz:

Nossa matriz africana é a mais abrasileirada delas. Já na primeira geração, o negro, nascido aqui, é um brasileiro. O era antes mesmo do brasileiro existir, reconhecido e assumido como tal. O era, porque só aqui ele saberia viver, falando como sua língua do amo. Língua que não só difundiu e fixou nas áreas onde mais se concentrou, mas amoldou, fazendo do idioma o Brasil um português falado por bocas negras, o que se constata ouvindo o sotaque de Lisboa e o de Luanda. (1995, p. 14)

A condição de vida do negro é descrita por Darcy como uma situação espantosa. Relata a violência permanente pela qual foram obrigados a viver. Pergunta-se: como conseguiram permanecer humanos? Como sobreviver sobre tanta pressão, trabalhando dezoito horas por dia todos os dias do ano? A triste conclusão é de que seu destino era morrer de estafa que era sua morte natural.

Para Darcy:

Nenhum povo que passasse por isso como sua rotina de vida, através de séculos, sairia dela sem ficar marcado indelevelmente. Todos nós, brasileiros, somos carne da carne daqueles pretos e índios supliciados. Todos nós brasileiros somos, por igual a mão possessa que os supliciou. A doçura mais terna e a crueldade mais atroz aqui se conjugaram para fazer de nós a gente sentida e sofrida que somos e a gente insensível e brutal, que também somos. Descendentes de escravos e de senhores de escravos seremos sempre servos da marginalidade destilada e instalada em nós, tanto pelo sentimento da dor intencionalmente produzida para doer mais, quanto pelo exercício da brutalidade sobre homens, sobre mulheres, sobre crianças convertidas em pasto de nossa fúria. (1996, p. 120)

Darcy assinala com grande lamento que "nossos patrícios negros" sofreram e ainda sofrem o drama de sua penosa ascensão de escravo a assalariado e a cidadão, sobre a dureza do preconceito racial.

3. Processo Sociocultural

Segundo a visão de nosso autor, o processo de formação do povo brasileiro foi marcado constantemente por situações de conflitos. Caracteriza o entendido entrechoque dos contingentes índios, negros e brancos dentro do quadro de conflitos não puros. Pois, segundo entende, sempre ocorreu uma mescla entre uns e outros.

Para Darcy uma nova situação se impôs com a chegada do dominador europeu, tendo em vista que este queria buscar de todas as formas impor uma hegemonia nessas terras.

Os conflitos interétnicos que aqui existiam, sem maiores consequências, agora de maneira mais ampla, é surpreendido por uma nova situação de guerra irreconciliável.

Nesse confronto, as forças que se chocam são muito desiguais. Comenta:

De um lado, sociedades tribais, estruturadas com base no parentesco e outras formas de sociabilidade, armadas de uma profunda identificação étnica, irmanadas por um modo de vida essencialmente solidário. Do lado oposto, uma estrutura estatal, fundada na conquista e dominação de um território, cujos habitantes, qualquer que seja a sua origem, compõem uma sociedade articulada em classes, vale dizer, antagonicamente opostas mas imperativamente unificadas para o cumprimento de metas econômicas socialmente irresponsáveis. A primeira das quais é a ocupação do território. Onde quer que um contingente etnicamente estranho procure, dentro desse território, manter seu próprio modo tradicional de vida, ou queira criar para si um gênero autônomo de existência, estala o conflito cruento. (1996, p.169)

Entre os momentos conflitivos Darcy aponta para os conflitos entre os invasores. Dizendo que entre colonos e jesuítas houve uma longa guerra sem quartéis, marcada por componentes classistas, racistas e étnicos, situa as motivações de colonização dos jesuítas num plano distinto ao da colonização espanhola e portuguesa.

Um outro enfrentamento altamente conflitivo é o que se deu por consequências predominantemente raciais. Entre as três matrizes vemos um sentimento de preconceito. Darcy diz que para o negros de ontem e de hoje, a liberdade passa a ser uma difícil e utópica busca. Por ela, são forçados a luta constante a fim de alcançarem uma situação de vida mais digna. Diz:

As lutas são inevitavelmente sangrentas, porque só à força se pode impor e manter a condição de escravos. Desde a chegada do primeiro negro, até hoje, eles estão na luta para fugir da inferioridade que lhes foi imposta originalmente, e que é mantida através de toda a sorte de opressões, dificultando extremamente sua integração na condição de trabalhadores comuns, iguais aos outros, ou de cidadãos com os mesmos direitos. (1996, p. 173)

Outra situação é a de caráter fundamentalmente classista, que configura a luta entre proprietários e as massas trabalhadoras. Darcy, ao que parece, vê essas lutas identificando-a como o recrutamento de mão-de-obra para a produção mercantil.

No processo de formação sociocultural do Brasil, Darcy vê a organização do que ele chama de empresas. A empresa escravista, ele a vê como a principal, latifundiária e monocultora que foi sempre altamente especializada e essencialmente mercantil. Outra, já como forma alternativa de colonização, foi a empresa jesuítica. Esta estava fundada na mão-de-obra servil dos índios. Uma terceira, que tinha um alcance social bastante considerável, foram as múltiplas microempresas de produção de gêneros de subsistência e de criação de gado, baseada em diferentes formas de aliciamento de mão-de-obra. Estas incorporam os mestiços de europeus com índios e negros dando corpo ao que viria a ser o grosso do povo brasileiro.

Darcy diz que essas empresas, cada qual com seus fins específicos, atuaram para garantir o êxito do empreendimento colonial português no Brasil.

Uma quarta empresa foi constituída pelo núcleo portuário de banqueiros armadores e comerciantes de importação e exportação. Formavam o componente predominante da economia colonial e o mais lucrativo dela.

Ainda sobre o processo de formação sociocultural, Darcy elabora uma visão de conjunto do processo de urbanização brasileira. Segundo ele, o Brasil nasceu já como uma civilização urbana, separada em conteúdos rurais e citadinos. Comenta:

Essas cidades e vilas, grandes e pequenas, constituíam agências de uma civilização agrário-mercantil, cujo papel fundamental era gerir a ordenação colonial da sociedade brasileira, integrando-a no corpo de tradições religiosas e civis da Europa pré-indústrial e fazendo-a render proventos à Coroa portuguesa. Como tal, eram centros de imposição das idéias e das crenças oficiais e de defesa do velho corpo de tradições ocidentais, muito mais que núcleos criadores de uma tradição própria. (1996, p. 197)

Ele elabora um quadro da questão agrária brasileira, onde comenta as dimensões espantosas dos latifúndios, a questão do monopólio da terra e a monocultura. Relaciona o temível êxodo rural com o inchaço das cidades em consequência causando a miserabilização da população urbana. Para Darcy formou-se um modelo político-econômico que estratifica a população brasileira. Diz:

A estratificação social gerada historicamente tem também como característica a racionalidade resultuante de sua montagem como negócio que a uns privilegia e enobrece, fazendo-os donos da vida, e aos demais subjuga e degrada, como objeto de enriquecimento alheio. Esse caráter intencional do empreendimento faz do Brasil, ainda hoje, menos uma sociedade do que uma feitoria, porque não estrutura a população para o prenchimento de suas condições de sobrevivência e de progresso, mas para enriquecer uma camada senhorial voltada para atender às solicitações exógenas. (1996, p. 212)

Sobretudo, a distância social entre ricos e pobres é, para Darcy, uma condição extremamente espantosa, somando-se a isso a discriminação sofrida pelos negros, mulatos e índios. O problema racial constitui-se num sério problema no Brasil. De maneira mais seria é aquele que pesa sobre os negros, a mais árdua foi e, ainda é, a conquista de um lugar e de um papel de participante legítimo na sociedade nacional. Comenta:

A nação brasileira, comandada por gente dessa mentalidade, numca fez nada pela massa negra que a construira. Negou-lhe a posse de qualquer pedaço de terra para viver e cultivar, de escolas em pudesse educar seus filhos, e de qualquer ordem de assistência. Só lhes deu, sobejamente, discriminação e repressão. Grande parte desses negros dirigiu-se às cidades, onde encontra um ambiente de convivência social menos hostil. Constituíram, originalmente, os chamados bairros africanos, que deram lugar às favelas. Desde então, elas vêm se multiplicando, como a soluçào que o pobre encontra para morar e conviver. Sempre debaixo da permanente ameaça de serem erradicados e expulsos. (1996, p. 222)

Ainda hoje, comenta haver a mentalidade assimilacionista que leva os brasileiros a supor e desejar que os negros desapareçam pela branqueação progressiva. Para Darcy a característica distintiva do racismo brasileiro é que ele não incide sobre a origem racial das pessoas, mas sobre a cor de sua pele.

Para ele, a possibilidade de existência de uma democracia racial está vinculada com a prática de uma democracia social, onde negros e brancos partilhem das mesmas oportunidades sem qualquer forma de desigualdade.

Darcy avalia o processo de estruturação como uma configuração diferente de quantas haja, segundo ele só explicável em termos, históricas. Comenta:

Composta como uma constelação de áreas culturais, a configuração histórico-cultural brasileira conforma uma cultura nacional com alto grau de homogeneidade. Em cada uma delas, milhões de brasileiros, através de gerações, nascem e vivem toda a sua vida encontrando soluções para seus problemas vitais, motivações e explicações que se lhes afiguram como o modo natural e necessário de exprimir sua humanidade e sua brasilidade. Constituem, essencialmente, partes integrantes de uma sociedade maior, dentro da qual interagem como subculturas, atuando entre si de modo diverso do que o fariam em relação a estrangeiros. Sua unidade fundamental decorre de serem todas elas produto do mesmo processo civilizatório que as atingiu quase ao mesmo tempo; de terem se formado pela multiplicação de uma mesma protocélula étnica e de haverem estado sempre debaixo do domínio de um mesmo centro reitor, o que não enseja definições étnicas conflitivas. (1996, p. 254)

Para Darcy, os brasileiros são hoje, um dos povos mais homogêneos linguística e culturalmente. Fala-se, como diz, uma mesma língua, sem dialetos.

Como mestiços "na carne e no espírito" temos o desafio de firmar nosso potencial, nossos modos distintos entre todos os povos. Devemos forjar um verdadeiro conceito de povo que englobe a todos sem distinção, em todos os direitos que devem assistir a cada cidadão brasileiro.

Nesse país mestiço, o povo brasileiro segundo Darcy, veio formando-se como uma nova Roma. A maior presença neo-latina no mundo, ainda em ser, forja-se como a grande presença do futuro.

CONCLUSÃO

No conjunto da obra de Darcy Ribeiro reconhecemos uma clara contribuição para o pensamento latino-americano, a qual Darcy escreveu uma vasta obra sobre indígenas, negros e mestiços no processo de formação do povo brasileiro. Sua obra surge como um espelho em que nós brasileiros podemos nos identificar, nos reconhecer. Nela encontra-se um esforço que ilumina o processo de desenvolvimento humano, social e cultural do nosso povo e de toda a América Latina. Acredito que seja indispensável o conhecimento da obra de Darcy Ribeiro para uma profunda tomada de consciência a partir de uma visão de conjunto do Brasil e da América Latina.

A obra de Ribeiro abre-se ainda para uma nova perspectiva onde identificamos o brasileiro com características revalorizadas peculiarmente. Assim, há uma consciência que ainda estamos construindo, o que, para Darcy, é um dos grandes desafios que enfrentamos: o de inventar o humano, com propriedades diferentes, mais solidários e fraternas.

Como uma descrição de aventuras, Darcy fala do processo de formação do povo fazendo-se a si mesmo. Expõe sua grande convicção sobre a formação de um novo gênero humano, a partir do estudo dos componentes novos da transfiguração, resultado do choque entre índios, negros e europeus. Daí lança sua denúncia, "o Brasil sempre foi um moinho gastando gente", "endossando" a boca do europeu, enriquecendo-o com a exploração do Brasil. Na angústia por entender porque o Brasil não deu certo do ponto de vista de seu povo, dá um importante exemplo de compromisso com este povo, sobretudo, através de sua sensibilidade com os índios, com os quais se comoveu e se identificou. Destes, emocionado, diz haver ganhado dignidade.

Por fim, identificamos em Darcy, de forma inconfundível, os traços fortes dos grandes pensadores latino-americanos, como: Simón Bolívar e José Martí, principalmente no que tange a construção a idéia de uma "nação latino-americana" mais humana, como uma nova civilização, mais "generosa, porque aberta à convivência com todos as raças e todos as culturas".

*Biografia: trecho extraída do livro O Brasil como Problema de Darcy Ribeiro publicado pela editora Francisco Alves).

BIBLIOGRAFIA

RIBEIRO, Darcy. O processo Civilizatório: Etapas da Evolução Sócio-Cultural. 10º ed., Petrópolis: Vozes, 1987.
_____________. As Américas e a Civilização: Processo de Formação e Causas do Desenvolvimento Cultural Desigual dos Povos Americanos. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1970.
_____________. O Dilema da América Latina: Estruturas de Poder e Forças Insurgentes. 5º ed., Petrópolis: Vozes, 1988.
_____________. Os Brasileiros: 1. Teoria do Brasil. Editora Paz e Terra, 1972.
_____________. Os Índios e a Civilização: A Integração das Populações Indígenas no Brasil Moderno. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1970.
_____________. O Brasil como Problema. 2º ed., Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995.
_____________. O Povo Brasileiro: A formação e o sentido do Brasil. 2º ed., São Paulo: Companhia das Letras, 1996
Fábio I. Pereira

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Por dentro da Literatura Brasileira

1
INTRODUÇÃO

A oratória Brasileira, Literatura, ou expressao verbal, obras elaboradas no Brasil desde os textos de informação, dados que os viajantes e missionários europeus colhiam sobre a natureza e o homem do Brasil Colônia, até nossos dias. Do ponto de vista literário, interessa destacar a evolução das formas estéticas que correspondem aos estilos artísticos que tiveram representação no Brasil. A primeira etapa corresponde ao barroco literário. A segunda, às transformações do barroco, às tentativas de renovação arcádica e neoclássica e ao romantismo e seus prolongamentos. A terceira, às tendências do fim do século: modernismo e pós-modernismo.

Segundo Antônio Cândido, a oratória ou literatura brasileira pode ser dividida em três períodos: Em primeiro lugar, a era das manifestações literárias, o medo de falar em publico, que vai do século XVI à metade do século XVIII. Um segundo Jornal Blogger instante é a era da configuração do sistema literário, que tem início na primeira metade do século XVIII à segunda metade do XIX. Em terceiro lugar, a era do sistema literário consolidado, da segunda metade do século XIX até a expressão verbal de nossos dias.

2
BARROCO


Os ciclos de ocupação da terra sucederam-se em consonância com as possibilidades demográficas e os interesses econômicos. Do litoral para o interior foram se definindo manchas de povoamento que originaram ilhas culturais. Estas, segundo Viana Moog, foram sementes da literatura regionalista, que se faz presente ao longo de toda a história literária do país, sabendo como falar em público.

Nesta primeira fase é sensível a expressao verbal na presença da Europa: Ibéria, no barroco; Itália, no arcadismo; França, no iluminismo (ver Século das Luzes). Define-se, ainda, a mediação da metrópole na transposição de valores estéticos do arcadismo e iluminismo. As manifestações literárias dos três primeiros séculos brasileiros respondem, sobretudo, ao problema da expansão ultramarina. A Carta de Pero Vaz de Caminha, oficializando para Portugal a posse das terras brasileiras, e o Diário de Navegação de Pero Lopes e Martim Afonso de Souza (1530) podem ser incluídos na Literatura de Viagens, gênero definido ao longo do século XV, em Portugal.

Veja a lista dos melhores Cursos de Oratória brasileiros.

O processo expansionista desdobra-se na colonização. Vencido o mar, começa a preocupação com a terra desconhecida, o que significava um desafio, pois, aparentemente, esta era indomesticável. Logo surgiram propostas para vencer a possível resistência e agressividade do índio. Esta preocupação manifesta-se na necessidade de registrar informações, organizar elencos e catálogos. Por estes motivos, são importantes os textos de informação, entre os quais se inserem Tratado da terra do Brasil (1570) e História da província de Santa Cruz (1576), de Pero de Magalhães Gandavo; Narrativa epistolar e o tratado da terra e gente do Brasil (1587), de Gabriel Soares; Diálogo das grandezas do Brasil (1618), de Ambrósio Fernandes Brandão; Diálogo sobre a conversão do gentio, do padre Manuel da Nóbrega; História do Brasil (1627), de frei Vicente de Salvador e os três primeiros séculos das Cartas jesuíticas.

Estes textos descrevem a terra, os costumes silvícolas e revelam a expectativa do colonizador em encontrar ouro e prata. Já os textos jesuíticos, mesmo os literários, de poesia ou teatro, têm como pano de fundo a preocupação missionária, alimentada pelo clima proporcionado pelas resoluções do Concílio de Trento. Esta realidade é facilmente identificada na obra do padre, poeta e dramaturgo José de Anchieta (1534-1597), autor de autos pastoris, entre eles, o Auto representativo da festa de São Lourenço (1583), e de poemas em metros breves, de tradição medieval espanhola e portuguesa, entre os quais se destacam Santíssimo Sacramento e A Santa Inês.

O teatro centra-se no antagonismo da expressao verbal de anjos e demônios, bem e mal, vício e virtude. Nos poemas épicos, Anchieta mostra a influência de Virgílio. O polilingüismo de muitas poesias e autos expressa uma atitude adaptativa ao meio. A palavra escrita ajustava-se à nova realidade, tentando inculcar valores portugueses e cristãos na população autóctone e mestiça que começava a se constituir. Estes primeiros escritos, feitos no Brasil e sobre o Brasil, de acordo com critérios estéticos vigentes no Ocidente, desvendam relações com estilos de vida e arte. São importantes por conterem uma literatura de imaginação, possível raiz do mito ufanista que se projeta através do tempo até a contemporaneidade dessa expressão verbal.


Esteticamente, as criações literárias dos três primeiros séculos são barrocas, neoclássicas e arcádicas. A organização da prosa identifica-se com o barroco no processo de identificação ilusória e sensorial, expresso nos jogos de palavras, trocadilhos e enigmas. Conceitualismo e cultismo, na melhor tradição cultural ibérica, misturam o mitológico ao descritivo, a alegoria ao realismo, o patético ao satírico, o idílico ao dramático. A literatura brasileira nasceu com o barroco, pelas mãos jesuíticas. Neste trabalho merecem destaque o padre António Vieira, Bento Teixeira, Gregório de Matos, Manuel Botelho de Oliveira, secundados por frei Manuel de Santa Maria Itaparica, padre Simão de Vasconcelos, frei Manuel Calado, Francisco de Brito Freire. Quando não integrantes da Companhia de Jesus, muitos destes autores foram educados pelos jesuítas, nos colégios ao lado das igrejas, em aulas de letras e humanidades, focos de transmissão da cultura metropolitana. Nelas, escoava a tradição portuguesa da retórica, base da formação intelectual e literária, preocupada em ensinar a falar e escrever com persuasão e beleza. Projetava-se, também, a postura intelectual da imitação de modelos, realizada nos escritos destes primeiros autores, em variados graus que vão da inspiração à glosa e tradução.

Nesta primeira fase, a literatura brasileira segue o ritmo lusitano do tempo. A obra do jesuíta, catequista e orador sacro Antônio Vieira (1608-1697) tem marcas européias, portuguesas e brasileiras. Os 15 volumes de Sermões são de particular interesse para nossa literatura, principalmente o Sermão do primeiro domingo da Quaresma (1653), que versava sobre a extinção do escravidão dos índios, e o Sermão XIV do rosário (1633), sobre os escravos negros. Na História do futuro, Antônio Vieira escreve um tratado sobre o profetismo, onde defende a mística do “5º Império do Mundo”, que seria português, com sede no Brasil. Beirando a heterodoxia, este texto obrigou seu autor a explicar-se ante o Tribunal do Santo Ofício (ver Inquisição). Maior orador sacro do Brasil, o padre Antônio Vieira era um barroco. Sua oratória é prolixa e cheia de alegorias, nas quais revela a argúcia de seu raciocínio da expressão verbal.

Bento Teixeira (1561-1600), cristão-novo português, nascido no Porto e morador de Pernambuco, escreveu a Prosopopéia, exaltando o terceiro donatário da Capitania de Pernambuco, Jorge de Albuquerque Coelho. A oratória barroca, calcada em Os Lusíadas, exalta o herói estóico cristão, realçando valores como o heroísmo, a estirpe, o poder, a glória, a honra, a riqueza, o saber e as virtudes. Inspira-se na terra e revela um caráter social e individual. Criação diretamente estruturada pela realidade, permite a realização, num plano imaginário, de uma coerência jamais atingida pelo autor, cripto-judeu, no plano real.

Gregório de Matos (1838-1696), natural da Bahia, cria uma poética composta de poemas líricos, religiosos e satíricos, nos quais retrata o Brasil com pessimismo realista, mesclado de obscenidades. Pela temática e técnica estilística, é a mais forte expressão individual do barroco na colônia. Manifestação da mestiçagem cultural, Gregório de Matos coloca em seus escritos antíteses, equívocos e jogos de palavras, transpostos dos modelos de Góngora e Quevedo. Sua obra é marcada pelos dualismos: religiosidade e sensualismo, misticismo e erotismo de como falar em público, valores terrenos e aspirações espirituais.

Manoel Botelho de Oliveira (1838-1711) publicou Musica do Parnaso (1705), após perder o medo de falar em publico, ficou dividido em quatro coros de rimas portuguesas, castelhanas, italianas e latinas, com seu descante cômico reduzido em duas comédias: Hay amigo para amigos e Amor, Engaños y Celos. Poeta-literato, segue os modelos de Marino Góngora e, em seu processo estilístico, destacam-se a analogia e a acentuação dos contrastes.

Frei Manoel de Santa Maria Itaparica, nascido na Bahia em 1704, escreveu uma epopéia sacra, Eustáquidos (1769), imitação dos épicos, e um poema, “Descrição da cidade da Ilha de Itaparica”. Simão de Vasconcelos produziu uma expressao verbal de edificação religiosa em que se distingue o falar em público da Vida do venerável padre José de Anchieta (1672).

Frei Manuel Calado inspira-se na defesa da terra contra invasores estrangeiros para criar Valeroso Lucideno (1648). De autoria de Francisco Brito Freire é A Nova Lusitânia (1675). Nesta primeira fase, não se deve estranhar o teor das manifestações literárias. Primeiro, pela fragilidade da vida intelectual na colônia, fato compreensível uma vez que a colonização foi um fenômeno burguês, com caráter empresarial, visando a produção e o lucro no comércio do açúcar. Não havia público para a produção literária, nem interesse nela, em um meio acrítico e desinteressado da vida cultural. No entanto, não houve deseuropeização: as estruturas do mundo que se erigia eram genuinamente portuguesas, embora passíveis de adoçamentos. As manifestações literárias foram, pois, desdobramentos da literatura portuguesa que, por sua vez, ainda não tinha desenvolvido perfeitamente os gêneros literários. Salvo raras exceções, a literatura barroca produzida na colônia acabou sendo de qualidade inferior. A própria obra de Anchieta, a mais alta expressão do barroco no seu tempo, não teve valor estético de primeira grandeza.

3
NEOCLASSICISMO E ROMANTISMO

Abrange as transformações do barroco, as tentativas de renovação arcádica e neoclássica e o romantismo. O início do século XVIII deixa entrever o declínio do barroco e as aberturas para o iluminismo, este ligado às transformações estéticas das Academias. No Brasil, coincide com o deslocamento do eixo político da Bahia para o Rio de Janeiro (1760) e com a descoberta do ouro em Minas Gerais. Não é estranho que, nestas áreas, tenha surgido um movimento cultural ligado à crise do colonialismo e às aspirações de independência política. José de Santa Rita Durão (1722-1784) escreveu o poema épico Caramuru (1781), onde faz um balanço da colonização em meio a uma descrição hiperbólica (ver Figuras de linguagem) da natureza. Neste poema são retratados os costumes dos índios, exaltadas a fé e a defesa da terra contra os invasores. José Basílio da Gama (1741-1795), com mentalidade iluminista e anti-jesuítica, escreveu o poema Uruguai (1769), em que descreve o choque da cultura branca com a indígena e, liricamente, adota uma atitude complacente com os selvagens.

Com o arcadismo, corrente de origem italiana, instalou-se a forma neoclássica que busca na natureza sua maior constante, identificando-a com a pureza e a bondade. No Brasil, este movimento nasce com os poetas da Escola mineira, Cláudio Manoel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Alvarenga Peixoto e Silva Alvarenga. Seu início é marcado pelas Obras poéticas (1768) de Cláudio Manoel da Costa (1729-1789). Em seus sonetos, églogas e no poema épico “Vila Rica” (1773), Cláudio Manuel da Costa deixa entrever influências de Petrarca e Camões, além de marcas de sua terra natal. Recorre ao procedimento temático da metamorfose, traduzindo a realidade brasileira em termos de tradição clássica. Incorporando o individualismo e o sentimento da natureza, o arcadismo mineiro inicia o lirismo pessoal.

Nesta linha, Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810) escreveu uma coleção de poemas de amor dedicados à Marília que contém reflexões sobre o destino, externando uma visão horaciana do mundo. Autor também de “Cartas chilenas” (1789), poema satírico contra a sociedade e o governador de Minas.

Silva Alvarenga (1749-1814) escreveu o poema heróico-cômico “O desertor” (1774), satirizando as reformas pombalinas da instrução. Em Glaura (1799), abriga uma série de madrigais e pequenos poemas. Souza Caldas (1762-1814), um liberal influenciado por Rousseau, deixou o poema didático “As aves”, uma epístola em verso e prosa onde se rebelava contra os modelos greco-latinos, além de um livro de cartas que reponta as idéias de emancipação.

Com a fuga da família real portuguesa, em 1808, e o estabelecimento da corte no Rio de Janeiro, houve sucessivos progressos na vida intelectual, facilmente identificáveis na criação da imprensa e publicação de periódicos. Após a independência (1822), despontam a prosa patriótica, o ensaio político e o sermão nacionalista que se, literariamente, não foram significativos, foram-no para a definição da consciência nacional. Neste momento, o dado mais importante é a definição de que existe, ou deveria existir, uma literatura portuguesa e outra, falar em público brasileiro.

Literariamente, este momento coincide com o romantismo de oratória, ruptura estilística com o arcadismo. Neste predominaram as influências literárias européias às quais foram incorporadas as produções da colônia. No romantismo, prevalece a dimensão localista, associada ao esforço de ser diferente, uma veia aberta às reivindicações de autonomia nacional. Também são caracterizados o espírito romântico, o individualismo, o subjetivismo, o ilogismo, o senso de mistério, o escapismo, o reformismo, o sonho, a fé, o culto à natureza, o retorno ao passado, o pitoresco, o exagero (Hibbard). Há, ainda, traços formais e estruturais: ausência de regras e formas prescritas, preferência pela metáfora. O romantismo, configurado nas três primeiras décadas do século XIX, plenamente instalado na segunda metade do mesmo século, processou-se através de ondas sucessivas, definindo uma estética e um estilo composto de elementos formais e espirituais. A nova estética abrange a poesia, a ficção e o drama, além de teorias críticas e literárias, objetivando a criação do caráter nacional da literatura.

O nacionalismo romântico expressou-se no indianismo. O índio transmutou-se em símbolo nacional. Gonçalves de Magalhães, Visconde de Araguaia, (1811-1822), escreveu a Confederação dos Tamoios (1856); Gonçalves Dias (1823-1864), em seu poema “I-Juca Pirama”, narra a história de um índio sacrificado por uma tribo inimiga. Primeiros cantos (1846) foi referência para a poesia nacional do período. No romance, a valorização do índio foi feita por José de Alencar (1829-1877) no Guaraní (1857) e em Iracema (1863), trabalhos cuja popularidade chegou aos dias atuais. O indianismo transfigura não mais a terra, mas o nativo, antes apenas objeto da descrição ou da sátira, dando ao brasileiro a ilusão de gloriosos antepassados. “O indianismo mascara a origem africana, considerada menos digna” (Roger Bastide).

Ainda no romantismo surge a restauração do mito da infância e do retorno à inocência do como falar em público, encontradas nos poemas “Idéias íntimas” de Álvares de Azevedo (1831-1851). Estados mórbidos de dúvidas evolam de Junqueira Freire e Casimiro de Abreu. Castro Alves (1847-1871) é autor de “Espumas flutuantes” (1867) e “A cachoeira de Paulo Afonso” (1876), poesia social e humanitária que teve peso nas campanhas pela abolição da escravidão negra. O movimento abolicionista inspirou, ainda, A escrava Isaura (1875), de Bernardo Guimarães e As vítimas algozes (1869) de Joaquim Manuel de Macedo. Joaquim Nabuco (1849-1910) deixou O Abolicionismo (1883), ensaio político de relevo.

Fagundes Varela (1841-1875) foi considerado o último poeta romântico. Escreveu um poema sobre a catequese, “Anchieta ou o evangelho das selvas” (1875), além de versos decassilábicos rimados em Cantos e fantasias (1865). Neles opõe o campo à cidade, demonstra solidariedade com os escravos e dilata seu patriotismo por todo o continente americano.

Em meados do século aparecem o romance e a comédia de Martins Pena (1815-1848), considerado o maior comediógrafo brasileiro. No romance, José de Alencar impôs-se com obra extensa e desigual, mas que o coloca como expoente da consciência literária brasileira. De sua autoria destacam-se Lucíola (1862), Diva (1864), A pata da gazela (1870), Sonhos d’Ouro (1872) e Senhora (1873), livros que inovam ao analisar os personagens em confronto com as condições sociais, descrevendo situações simbólicas com linguagem adequada.

Também em meados do século, o romance passa a descrever lugares e modos de vida. Em A Moreninha (1844), Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882) narra amores convencionais da classe média. Em seus 20 romances, peças de teatro e poemas surge, pela primeira vez no Brasil, a figura profissional do escritor. Manuel Antônio de Almeida (1831-1861) escreveu Memórias de um sargento de milícias (1854), exemplo de simplicidade realista com que descreve a vida e o falar em público da pequena burguesia.

A invasão da poesia pela música leva às modinhas, falar em publico, poesia musicada, inspirada nas áreas de ópera. Com elas, a poesia penetra mais, diminuindo a distância entre cultos e incultos. Figuras representativas do último grupo dos românticos foram Franklin Távora, Bernardo Guimarães e Alfredo d’Escragnolle Taunay. Franklin Távora (1842-1888), teórico e romancista, escreveu sobre Pernambuco do século XVIII, adotando restrições à tendência da literatura de se relacionar com a cultura européia. Estabelece-se o conflito entre a inclinação de vinculação à Europa e aquela que busca estabelecer uma tradição local, extremos entre os quais se debateria a consciência literária. Alfredo d’Escragnolle Taunay (1843-1899) compõe Inocência (1872) com cenário e costumes sertanejos, além de diálogos naturais pelo tom e vocabulário. Taunay concluiu ser preciso perder o medo de falar em publico, e voltou-se, depois, para o romance urbano, onde se destaca O declínio (1899), que trata do descompasso entre a paixão e o envelhecimento.

Em torno dos trabalhos do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, fundado em 1838, e das revistas Minerva Brasiliense (1843-1845) e Guanabara (1851-1855), forma-se uma teoria nacionalista da literatura e se organiza o estudo sistemático da produção literária.

Nos anos 70 do século XIX, o país conheceu grande desenvolvimento e o progresso se fez sentir nas cidades maiores. A imprensa se desenvolveu e novas revistas surgiram, como a Revista Brasileira (2ª fase, 1878-1881). A erudição e a pesquisa documental aparecem na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1839) e nos Anais da Biblioteca Nacional (1878). Na mesma época tem início um movimento de idéias filosóficas e literárias e oratoria , inspirado no positivismo de Comte e no evolucionismo de Spencer, que se estendeu até o início do século XX. Este movimento ressoou na literatura, principalmente em Pernambuco, no Ceará e no Rio de Janeiro.

Há um retorno crítico contra o idealismo romântico, a cosmovisão religiosa e a legitimidade das oligarquias, com o apoio no cientificismo e no relativismo. Surge o naturalismo e as primeiras correntes que inspiraram as modernas técnicas sobre como falar em público . Os gêneros literários tinham ganho autonomia e consistência quanto aos temas e a estrutura. O sistema de idéias e normas estéticas, implantado na década de 1870, constituiu o complexo estilístico do realismo, naturalismo e parnasianismo. Estava configurado o sistema literário no Brasil. A literatura já é, então, a atividade regular dos intelectuais, há veículos de difusão da produção escrita e a tradição local é ponto de referência.

4
REALISMO E MODERNISMO

Depois de 1870, há sensíveis modificações na posição mental dos intelectuais do Brasil, que oscilam entre o abolicionismo e a república, ou juntam as duas motivações, unidas pela noção de liberdade e democracia. A passagem do estilo romântico para o realista é dada pela poesia científica e libertária de Silvio Romero, Fontoura Xavier e Valentim Magalhães. Instala-se o realismo com sua vertente naturalista, tentando corrigir a espiritualização excessiva da oratória. O realismo procura a verdade retratando, fielmente, os personagens e a vida que interpreta objetivamente, analisando-a em todos os detalhes. Busca expressar-se numa linguagem simples, natural, próxima da realidade.

O realismo em termos de falar em publico, envereda pelo naturalismo no romance e no conto. O fatalismo pessimista emerge como pano de fundo da prosa de Aluízio de Azevedo (1857-1913), tanto em Mulato (1881), um estudo sobre o preconceito racial, como em Casa de pensão (1884), que versa sobre a conduta e a morte de um estudante. Em O cortiço (1890), Aluízio de Azevedo revela influência de Èmile Zola na inclusão do simbolismo significativo. O cortiço seria o Brasil, dependente e explorado pelas nações desenvolvidas.

Nesta fase, a grande figura é Machado de Assis (1839-1908), jornalista, romancista, comediógrafo e primeiro escritor com noção exata do processo literário brasileiro. Como ficcionista, escreveu uma centena de contos, entre os quais figuram Papéis avulsos (1882), Histórias sem data (1884) e Várias histórias (1896). Entre os romances de sua autoria estão Memórias póstumas de Braz Cubas (1881), Quincas Borba (1891), Dom Casmurro (1899), Esaú e Jacó (1904) e Memorial de Aires (1908). Machado de Assis afasta-se dos modismos literários, transforma emoções em ambigüidades, demonstra interesse pela realidade social e se transforma no mais importante escritor brasileiro.

Raul Pompéia (1863-1895), em O ateneu (1888), guarda estreitas relações com experiências próprias ao descrever a vida colegial. Ataca o processo educativo por sua formalidade, considera-o uma expressão carcomida das instituições do Império, entre as quais a escola seria um microcosmo.

O naturalismo do como falar em público voltou-se para o regional. Em Fortaleza, Ceará, surgem vários grêmios políticos e literários e alguns romances como Luzia-Homem (1903), de Domingos Olímpio Braga Cavalcanti (1850-1906), perfil da mulher excelente no pecado e na virtude.

Entre o crepúsculo do naturalismo e a Semana de Arte Moderna de 1922 instala-se a figura de Coelho Neto (1864-1934). No seu primeiro romance, A Capital Federal (1893), Coelho Neto faz uma crônica romanceada da vida carioca. Miragem (1895) tem narrativas sobre a vida doméstica onde, com realismo, retratam-se imagens burguesas. Em Inverno em flor (1897), a hereditariedade doentia gera a loucura e um amor incestuoso. Tormenta (1901) retoma a abordagem de patologias com o tema da morte e dos ciúmes.

Valdomiro Silveira (1873-1941) inicia a prosa regional patética em Os caboclos (1920), Nas serras e nas furnas (1931), Mixuango (1937) e Leréias, histórias contadas por eles mesmos (1945).

Monteiro Lobato (1882-1948) militou a favor do progresso. Urupês (1918), Cidades mortas (1919) e Negrinha (1920) dão início à sua obra narrativa crítica em relação às oligarquias e à primeira República. Sua obra é permeada por costumes do interior e sátiras expressas em palavras pitorescas. O realismo — incorporando à literatura aspectos regionais, profissionais e populares —, concorreu para o desenvolvimento de um estilo e para a nacionalização da língua em oratoria.

Simultaneamente, a poesia expressa-se no parnasianismo. O primeiro livro foi o de Teófilo Dias, Fanfarra (1882). Seguiram-no Alberto de Oliveira, Raimundo Correia, Olavo Bilac, e depois os neoparnasianos Martins Fontes e Amadeu Amaral. Caracterizam-se pela atenuação do sentimentalismo, desinteresse pela política, pedantismo gramatical e rebuscamento da linguagem. Os parnasianos resgatam o soneto, apegam-se ao rigor gramatical e ao casticismo vernacular, inspirado nos clássicos. De sua temática emergem descrições de salas de mármores, vasos de porcelana, metais preciosos, um quadro, uma cena, um retrato, corpos femininos e mesmo falar em público.

Alberto de Oliveira (1857-1937) publica Canções românticas meridionais (1884), Sonetos e poemas (1885), Versos e rimas (1895). Olavo Bilac (1865-1918) recorre a motivos diversos: o índio, a guerra e a temática greco-romana em Poesias (1888), Crítica e fantasia (1906) e Poesias infantis (1904). Raimundo Correa (1859-1911) estreou com uma coleção de versos intitulada Os primeiros sonhos (1879), vindo depois Sinfonia (1883), Versos e versões (1887), Aleluias (1891) e Poesias (1898).

Depois de 1890, o realismo naturalista começa a ser questionado pela introspecção do simbolismo, iniciado, no Brasil, por um grupo de escritores do Rio de Janeiro que se autodenominava “decadentista”. Este grupo recorria ao hieratismo gramatical com truncamentos de sintaxe, em busca de efeitos lingüísticos. Alinham-se, entre os “decadentistas”, Cruz e Souza, B. Lopes e Oscar Rosas. Em Fortaleza, Ceará, autores se reúnem e fundam a “Padaria espiritual” (1892), passando a cultivar excentricidades. No simbolismo pode-se, ainda, inserir Alphonsus de Guimaraens (1870-1921), autor cristão que expressa a fé católica em poemas devotos e litúrgicos como Septenário das dores de Nossa Senhora (1899), Dona Mística (1899), Kyriale (1902) e Pastoral aos crentes do amor e da morte (1923).

Depois de 1870, o falar em publico, a consciência literária e crítica emerge, na história, com Capistrano de Abreu, Sílvio Romero na teoria da cultura e folclore, Araripe Jr. e José Veríssimo na crítica, Pedro Lessa no direito, Miguel Lemos e Teixeira de Freitas nas idéias, Joaquim Nabuco e Rui Barbosa na política. Capistrano de Abreu (1853-1927) esboçou, sob influência de Taine, uma teoria da literatura nacional a partir de uma consideração de fatores envolvendo o clima, o solo e a mestiçagem, em sua opinião, definidores do caráter do povo. Além de sua obra histórica, editou e comentou textos coloniais como a História do Brasil de frei Vicente de Salvador, os documentos da Visitação do Santo Ofício à Bahia e Pernambuco.

Silvio Romero (1851-1914) defende, sem medo de falar em público, a ligação da literatura e demais artes com os fatores naturais e sociais. Publica Literatura Brasileira e a Crítica Moderna (1880) e História da Literatura Brasileira (1881). Demonstra o sentido do progresso da humanidade em O evolucionismo e o positivismo na república do Brasil (1894). Dá início à crítica sociológica, propondo a abordagem da obra literária em função das realidades antropológicas e sociais.

José Veríssimo (1857-1916), preocupado com a gramática, produziu a obra crítica Estudos de literatura brasileira (6 séries, 1901-1907). A história da literatura brasileira (1916) é norteada pelas qualidades estéticas e significado histórico. A poesia parnasiana e simbolista e a literatura realista naturalista dominaram o gosto do país e foram fatores de resistência às mudanças estéticas. À esta situação, reagiu o modernismo.

O modernismo foi um movimento cultural que reviu o Brasil. Resultou de modelos importados da Europa (vanguardas francesa e italiana), aos quais foram associadas tendências nacionais. A obra inicial do modernismo foi Paulicéia desvairada (1922), de Mário de Andrade, que teve como personagem a cidade de São Paulo em ritmo de desenvolvimento. O outro centro do movimento foi o Rio de Janeiro.

A Semana de Arte Moderna, em fevereiro de 1922, precedida dos trabalhos de Menotti del Picchia e Oswald de Andrade, que prepararam os espíritos para uma renovação literária, aconteceu em São Paulo. Alguns autores de vanguarda uniram-se para combater o que consideravam retrógrado. A idéia inicial foi do pintor Di Cavalcanti, que sugeriu a Paulo Prado organizar uma semana de escândalos em São Paulo. Esta “semana” — despida de qualquer conteúdo político, social ou popular — foi uma reunião de intelectuais. O modernismo teve linhas diversas, mas foi um importante fator de transformações e referencial da atividade artística e literária brasileira. Defendeu, basicamente, a liberdade da criação e experimentação. Investiu contra a estética acadêmica, o medo de falar em público, e valorizou os temas do cotidiano e pregou o uso da língua, respeitando as diferenças geográficas do país mesmo em oratoria.

Em São Paulo, surgiu o grupo Verde-amarelo, patriótico e sentimental, procurando se embasar no indianismo. A figura central deste movimento foi Mário de Andrade, (1893-1945), poeta, narrador, ensaísta, musicólogo, folclorista e líder cultural. Escreveu A Escrava que não é Isaura (1925), plataforma da nova poética, Amar, verbo intransitivo (1927) e um romance inovador, Macunaíma (1928), considerada sua obra prima.

Oswald de Andrade (1890-1954) escreveu Os condenados (1922) e Estrela do absinto (1927), prosa fragmentária, cheia de elementos contraditórios. Sua contribuição cresce nos romances Memórias sentimentais de João Miramar (1924), Serafim Ponte Grande (1933) e nos poemas Pau Brasil (1925) e Primeiro caderno de poesia (1927). Interpreta a cultura brasileira como um processo de assimilação e recriação das idéias européias, resumidas no Manifesto antropofágico (1928) (ver Antropofagia cultural). Depois de 1930, aderindo ao comunismo, escreveu peças de teatro como O homem e o cavalo (1934). Mario e Oswald de Andrade lideram a ala inovadora do modernismo em São Paulo. No Rio de Janeiro, a chefia do movimento foi de Graça Aranha (1868-1931), com seu romance Canaan (1902).

Importante, ainda, é citar o grupo da revista Festa (1928) onde aparece Cecília Meireles (1901-1964), e da revista Estética (1924-1925), dirigida por Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) e Prudente de Morais Neto (1905-1927). Aos modernistas de São Paulo, ligou-se um dos maiores poetas brasileiros: Manuel Bandeira. A parte mais importante de sua poesia está reunida em Libertinagem (1930).

A partir dos núcleos de São Paulo e Rio de Janeiro, a renovação literária se expandiu pelo Brasil através de manifestos, grupos e intercâmbios, frutificando, principalmente, em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul. Os anos de 1930 e 1940 aceitaram plenamente o modernismo, ao lado do qual floresceu o regionalismo crítico do Nordeste.

Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), em seu falar em público, aderiu ao movimento modernista com seus livros Alguma poesia (1930) e Brejo das almas (1934), onde procurou desenvolver uma poesia não-poética. Nos livros seguintes fundiu componentes tradicionais (o passado da família) a componentes utópicos (desejos de redenção social). Nesta fase surgiram Sentimento do mundo (1940), José (1942) e Rosa do povo (1949).

Murilo Mendes (1901-1975) inicia sua produção com a poesia humorística, sofrendo influências do surrealismo, refletidas na obra O anjo (1934), e desaguando no mistério e na transcendência após sua conversão ao catolicismo, refletida em A invenção de Orfeu (1952).

Augusto Frederico Schmidt (1906-1965) é um neo-romântico que reage ao modernismo, restaurando o mistério no tratamento de temas como o amor e a morte. Vinícius de Moraes (1913-1980) inicia sua obra com um poema transcendente para se tornar, depois, um cantor da paixão e da simplicidade do cotidiano. A obra de Drummond e de Murilo enquadra-se na opção ideológica de volta ao cristianismo, que marcou a cultura sob a liderança de Alceu Amoroso Lima, prolongando-se pela Ação Católica e pelo integralismo.

No integralismo, a figura central é Plínio Salgado (1895-1975), membro do grupo Verde-amarelo. Otávio de Faria (1908-1980) escreveu treze volumes de romances visando temas como a adolescência face ao pecado e o comportamento entre a vocação e as convenções. Entre eles, merece destaque Tragédia burguesa.

Maior impacto teve o romance nordestino regionalista. Nele, o homem pobre do campo e da cidade é focalizado na plenitude de sua condição humana. Graciliano Ramos (1892-1953) é o autor mais representativo com o romance Vidas Secas (1938), que narra a vida de uma família de retirantes. São Bernardo (1934) conta a história de um trabalhador rural que se torna proprietário e transpõe suas atitudes violentas para a vida afetiva. Angústia (1936) centra-se no drama do desajuste de um homem medíocre que se compensa com o crime. Graciliano Ramos, que sob a ótica regional tratava de problemas universais, não fez concessões à qualidade da escrita: é moderno pelo tratamento dispensado à tradição.

5
TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS

O experimentalismo estético da Semana de 22 gera uma ideologia com a qual foram reexaminados os problemas da cultura, como qualidade e tradição. O interesse pela vida contemporânea norteou Josué de Castro, Caio Prado Júnior, Jorge Amado e Jorge de Lima. O Estado Novo (1937-1945) e a Segunda Guerra Mundial aguçaram as tensões no plano das idéias e novas configurações históricas geraram novas experiências nas artes, principalmente na literatura. A produção dos autores da primeira metade do nosso século deixa transparecer angústias e projetos inéditos nos trabalhos de poetas, narradores e ensaístas. Na poesia, a geração de 1945 isolou os cuidados métricos, procurando se contrapor à literatura de 1922, menosprezando as conquistas do modernismo na oratoria e expressão verbal.

No panorama da nova poesia brasileira, com o medo de falar em público de Fernando Ferreira de Loanda insiste na afirmação da diferença e na busca de novos caminhos. É a posição de Alphonsus de Guimaraens Filho, Péricles Eugenio da Silva Ramos, João Cabral de Melo Neto, Paulo Mendes Campos, Hélio Pellegrino e Lêdo Ivo, entre outros. Todos defendem um gênero intimista, onde imagens são correlatas ao sentimento que os símbolos ocultam e sugerem. Submetem-se às exigências técnicas e formalizantes. Depois de 1950, a obsessão pelo desenvolvimento domina a literatura. O nacionalismo desloca-se da direita para as ideologias de esquerda. Renova-se o gosto pelo regional na obra de Ariano Suassuna, Gianfrancesco Guarnieri, Augusto Boal e Dias Gomes. Na ficção, destaca-se João Guimarães Rosa em cuja obra o natural, o infantil e o místico são recuperados nas fontes da linguagem iletrada.

Ainda na ficção, o falar em publico do realismo cientificista do século XIX é substituído pela visão crítica das relações sociais, principalmente em Érico Veríssimo e José Américo de Almeida. No romance psicológico caminha-se pela introspecção da psicanálise. Socialismo, freudismo, catolicismo são usados para a compreensão do homem social. Na poesia, o concretismo — ou poesia concreta — impôs-se depois de 1956 como expressão da vanguarda estética. O grupo inicial é o da Antologia Noigrandes. Nomes de proa são os de Haroldo de Campos, Auto do possesso (1950), Augusto de Campos, O rei menos o reino (1951) e Décio Pignatari, O carnaval (1950). O grupo abandona o verso e busca uma linha de sintaxe (ver Gramática) espacial. O ponto de partida da estética é a estrutura verbo-visual. Inova no campo semântico (ideogramas), sintático (redistribuição de elementos do discurso), léxico (neologismos, estrangeirismos, tecnicismos), morfológico (desintegração dos sintagmas nos seus fonemas), fonético (aliterações, assonâncias) e topográfico (abolição do verso, uso construtivo de espaços em branco).

São desdobramentos da vanguarda concretista os trabalhos de autores sem medo de falar em público, mineiros reunidos nas revistas Tendências (1957), Ptyx (1963) e Vereda (1964), publicadas em Belo Horizonte. Hoje, o poema é marcado pela objetividade, isto é, pela procura de imagens que tornem o texto instrumento de crítica da realidade social, além da procura de códigos que o insiram na comunicação de massas da expressão verbal. Poesia participante e poemas tecnicistas estão em Ferreira Gullar, com A luta corporal (1954), Dentro da noite veloz (1975) e Antologia poética (1976) e na obra de João Cabral de Melo Neto, entre elas a Pedra do sono (1942) e Educação pela pedra (1960).

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quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Os Navios do Infante

OS NAVIOS DO INFANTE E A EVOCAÇÃO
PORTUGUESA DA PARTIDA PARA A CONQUISTA DE CEUTA


Artigo publicado no Diário de Notícias de 27 de Agosto de 1960

Três caravelas (séc. XV), duas naus (séc. XIV e XV) e uma galé (séc. XIV e XV)

Em boa hora a comissão executiva das comemorações henriquinas fez a reedição do opúsculo do comandante Quirino da Fonseca, «Os Navios do Infante». Na verdade, depois do desaparecimento deste saudoso mestre e amigo, ninguém, que nós saibamos, tomou o facho que ele tomara de Lopes de Mendonça, no empenho de dar a conhecer aos Portugueses algumas das suas glórias, simples como todas as verdadeiras glórias.

Pouco haveria a acrescentar ao pequeno mas denso, documentado e entusiástico estudo de Quirino se nele se falasse de todos os tipos de barcos utilizados pelo infante D. Henrique. Mas o seu autor, muito justamente, concentrou as suas atenções na barca e na caravela e menosprezou os outros; porque só aqueles são os navios dos descobrimentos e, especialmente o último, criação dos estaleiros henriquinos, que afinaram um antigo barco de pesca preparando-o para a navegação «quase contra o vento», sem o que não teria sido possível o devassar das costas africanas.

Foi este o maior contributo que Portugal trouxe à construção de barcos, embora outros tivesse trazido mais tarde.

Quis o Porto, como não podia deixar de ser, associar-se às homenagens a prestar ao seu filho Henrique. Como também não podia deixar de ser vai fazê-lo com a audácia e o rompante seus costumados. Decidiu-se nada menos do que a evocar a partida do infante para Ceuta em 1415, quando ele tinha apenas 22 anos, e a reconstituir parte da frota que ele mesmo organizou no Porto.

O que o Eng. Pacheco de Almada propôs fazer, metendo ombros à temerosa empresa, pareceria loucura a qualquer que não visse, através do seu sorriso calmo, uma férrea determinação. Eu creio que a vi logo que ele me deu a honra de convidar-me a orientá-lo na parte arqueológica da reconstituição; e por isso o acompanhei imediatamente na sua obra de cultura e no desinteresse do seu Patriotismo. Nenhuma consideração pode empanar o brilho do seu esforço.

Estou ainda vendo os olhos esbogalhados do Sr. Petrew, conservador do Museu Marítimo de Roterdão, quando, em Março passado lhe anunciei a ideia de em Agosto estarem na água oito navios de 1415, em tamanho natural, navegando, com as suas tripulações e dos quais nenhum ainda estava pronto, «impossível» — disse-me ele. «O senhor, não conhece o Porto» — disse-lhe eu. E os navios aí estão.

A frota que levou o infante a Ceuta foi constituída, no seu grosso, por naus alugadas ou compradas, umas dos mares do Norte, outras mediterrâneas, e por galés genovesas, das que faziam o comércio com a Inglaterra e ainda por galés e naus construídas nas margens do Douro, nos estaleiros nesse tempo mais activos de toda a costa e há muito tempo orientados por mestres de Génova.

Logo se vê não haver nestes barcos a originalidade portuguesa que veio, tão genialmente, a manifestar-se na caravela melhorada de Sagres e a somar-se à originalidade do sonho descobridor de D. Henrique.

Mas isso que tem? Pouco interessa ao valor de Gago Coutinho o ter utilizado um avião inglês ou ao de Columbano o ter usado, porventura, pincéis franceses ou tintas alemãs.

E o infante, para a expedição de Ceuta, não fez mais do que seguir a prática corrente, em todos os países, de comprar ou alugar barcos de qualquer origem e adaptá-los a fins de guerra.

Veremos depois, no século XVII, a França equipar toda a sua marinha, com navios holandeses, a Inglaterra a copiar os mesmos (a Inglaterra, essa nunca, adoptou nada no campo da construção naval que não tivesse já sido bem provado por outros, diz o inglês Holmes) e, no século XVIII, toda a gente a copiar os franceses e a Rússia a chamar italianos para os seus estaleiros. Também no século XVI, e em toda a Europa, se copiara a construção portuguesa., especialmente estimada e espiada, como o demonstrava Guilleux La Roërie, grande mestre da arqueologia, naval num estudo inédito, que o Instituto para a Alta Cultura, por minha humilde proposta, trazida de Paris e vigorosamente secundada por Quirino da Fonseca, editaria em 1940 se a guerra não tivesse sobrevindo e destruído também este belo projecto.

Podemos pois seguir confiadamente, para a evocação portuense, documentos estrangeiros relativos à época da expedição, porque não os há nacionais, e se os houvesse seriam semelhantes àqueles Os tipos seriam iguais e os mareantes também, da pesca ou da cabotagem, e não seriam melhores, nem mais valentes do que os nossos pescadores de agora, seus legítimos herdeiros no martírio do trabalho, na fé, na simplicidade e até na superstição. Foram eles os tripulantes dos navios, e nestes, aqui como em toda a parte, conduziam os soldados, que sobre eles combatiam, exactamente armados e equipados como se em terra combatessem.

A marinha de guerra «propriamente dita», na precisa frase de Van Konijnenburg, só apareceu, como se sabe, no século XVII.

As naus dos séc. XIV e XV não são muito frequentemente representadas fora do meio especialista. Por isso, no receio de que os barcos feitos agora pareçam um pouco insólitos a algumas pessoas, pedem-me os organizadores da reconstituição uma breve justificação dos mesmos.

Essa é uma das razões destas palavras.

Como seriam as naus e as galés da frota de Ceuta? O problema é sedutor, mas difícil no que se refere às naus; bem mais fácil no que respeita às galés.

Os conhecimentos actuais não são da mesma densidade em relação às diferentes épocas da História. Todos nós podemos saber um pouco como eram os barcos egípcios, gregos e romanos da antiguidade. Saberemos muito melhor como eram certos barcos-esplanadas do séc. I porque conhecemos os próprios barcos de Calígula, que estavam afundados no lago de Nemi e foram postos em seco (e barbaramente destruídos, na guerra). Conhecemos muito mal os barcos dos séc. XII e XIII, mas conhecemos muito bem alguns do séc. IX porque estiveram debaixo da terra até há pouco. Iremos conhecer muito bem um navio sueco do começo do séc. XVII, agora redescoberto, quase intacto, no fundo lodoso do porto de Estocolmo.

E temos o recurso da interpolação, quando ela é justa, dada a histórica inércia da construção naval. Assim, se conhecermos dois barcos semelhantes em duas datas diferentes, podemos aceitar a existência dum barco semelhante entre aquelas datas.

É este o caso da época da expedição de Ceuta. Mas também devemos lembrar-nos de que essa data se situa precisamente num hiato dos mais misteriosos da história do barco, pois foi nesse período que se gerou a nova concepção do veleiro.

A náu, no começo do séc. XV, e desde séculos, era um navio bojudo e um tanto gêbo, muito largo em relação ao comprimento, com um enorme mastro a meio, quase sempre solitário; com este se cruzava uma grande verga, bem horizontalmente, da qual pendia uma vela tão grande que o vento a embolsava e deslocava fortemente para vante o seu centro. Durante mais do cinquenta anos continuou a haver naus assim. A sua proa era muito elevada, para que nos ataques a outros barcos os sobrepujasse facilmente. Eram barcas quase ingovernáveis com vento pouco propício, como se viu no cerco de Lisboa e, em frente de Ceuta, com alguns da própria expedição de 1415.

Mas, nos primeiros vinte anos do século de quatrocentos, começa uma das grandes viragens da construção naval. Aparece o navio de 3 mastros, com um sistema de velas que deveria, na sua essência, manter-se até ao séc. XIX, permitindo, por novas manobras, um domínio e uma certeza de navegação até essa altura desconhecidos num navio de alto bordo sem o auxilio de remos.

As notícias desse aparecimento são raras e vagas, mas é possível que já houvesse algum navio desse tipo no tempo da trota de Ceuta, embora eles só voltem a ser de uso corrente nos fins do século. A artilharia e a bússola, aparecidas na marinha, no seu prudente e costumado atraso, pelas mesmas alturas, com o enorme alargamento de possibilidades que trouxeram, aliam-se à nova concepção e influem decididamente na forma do casco; este torna-se mais «oceânico», alonga-se e, embora com os mesmos dois castelos, baixa o de proa e, eleva o da pôpa, para melhor emprego da artilharia. São desta feição as naus de Vasco da Gama, cuja forma, tão vulgarizada melhor ou pior, se afasta assim substancialmente das naus correntes do tempo de D. Henrique.

Os planos das naus que tivemos o gosto de elaborar e oferecer à bela iniciativa portuense, são essencialmente baseados num quadro de Jaime Serra, de 1360, no qual se representa uma nau mediterrânea que julgamos inédita nos livros e tratados de arqueologia e analisámos no museu de Vich, e no preciosíssimo modelo catalão de Mataró, ex-voto executado em 1450, e agora no Prinz Hendrijks Museum de Roterdão, onde tivemos há meses a sorte, provocada, aliás, de o poder estudar, directa e demoradamente. São muito semelhantes os dois documentos e, por isso, nos parece ser absolutamente verosímil que em 1415 existisse tipo idêntico de nau.

Foi dessa base que partimos acompanhados pela rica documentação do Museu de Barcelona e pelos excelentes estudos feitos sobre semelhantes barcos por Winter.

Preferimos este tipo ao tipo evoluído pelas razões expostas e também porque o navio novo já anuncia, como os descobrimentos, a Renascença. E a expedição de Ceuta tem ainda carácter claramente medievo; os seus navios devem acompanhar esse espírito.

Para a galé do século XIV ainda o documento mais seguro são os frescos de Siena, bem melhores do que certa reconstituição, aliás muito bela, do Museu Naval de Madrid. Mas nós vemos também, nos quadros do veneziano Carpaccio, como os caracteres das galés dos fins de quatrocentos não se afastam quase nada dos daquelas, mantendo a sua forma rasa e plana, ainda sem a graciosa curva que apareceu no século XVI. A galé é um barco de remos, tão vulgarizado e de anatomia tão descarnada que não é difícil a sua reconstituição, para a qual também os estudos do Dr. Sottas são um bom auxílio.

Quanto à realização dos barcos é natural que não possa perfilhar algumas das interpretações dadas a certas linhas do seu exterior visível pelo excelente mestre que as construiu. E isso compreende-se. As obras vivas das barcos eram do seu conhecimento, mas a parte emergente não. Nós não devemos, em todo o caso, exigir mais de navios feitos para um espectáculo passageiro e nocturno e construídos em condições espantosas de rapidez e economia.

Trata-se de uma evocação e nem com oito navios se pode fazer a reconstituição integral de uma frota de mais de duzentos barcos nem mesmo naqueles é possível um rigor maior, uma diferenciação de origens e uma emenda de desvios sem despesas e demoras incomportáveis.

A galé realizada é adaptada de uma barça do Douro e mesmo com essa servidão, tem um aspecto muito de aceitar-se. Todo o conjunto da flotilha, aliás, nas suas linhas gerais, é perfeitamente verosímil na época, como qualquer pessoa informada o verificará.

Não quiseram os organizadores da frota que nela deixasse de figurar uma caravela ou duas. E o mestre construtor, Armando santos, partindo apenas de um perfil representado numa pequena gravura moderna, fez um trabalho admirável. O mestre diz-se alheio «a cálculos matemáticos e à história» e «que só sabe as regras», pois só com essas regras da tradição ele fez o barco melhor, a meu ver, de entre todos. E porquê? Porque a caravela é, de entre todos os barcos ali desejados, o que mais se aproxima do veleiro de pesca, que o mestre conhece, como poucos, por dentro e por fora. E deu-lhe uma verdade, uma autenticidade que nunca um historiador e muito menos um engenheiro lhe poderia dar sem o seu dominante concurso.

É talvez pena que a gravura de onde decidiu partir seja de um desenho um tanto suspeito e, em qualquer caso, de um tipo de uma época muito posterior a da expedição de Ceuta. Mas é lindo e impressionante esse navio agora feito no Porto.

De todos os modos é uma vitória completa a evocação henriquina, realizada pela Invicta, com a sua unidade de sempre e com o seu entusiasmo moço e contagioso. Temos de felicitá-la e de agradecer-lhe o exemplo magnífico.

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Z Costas Gravas

sinopse: Esta história é baseada no caso Lambrakis, como foi originalmente apresentada na obra Z, de Vassili Vassilikos. Em 1965, Lambrakis, um professor de medicina, é assassinado quando saía de uma manifestação de paz em praça pública, a investigação sobre sua morte acabou por revelar uma rede de escândalos, corrupção e ilegalidades na polícia e no governo na qual o líder do partido de oposição se tornou Premier. Porém, em 1967, um golpe militar derrubou o governo legal. O filme revive o assassinato e a investigação numa tentativa de demonstrar como o mecanismo da corrupção fascista pode se esconder atrás da máscara da lei e da ordem.

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Relatório Filme - A Rainha Margot

• Sinopse No século XVI um casamento de conveniência é celebrado com o intuito de manter a paz. A união entre a católica Marguerite de Valois, a rainha Margot (Isabelle Adjani), e o nobre protestante Henri de Navarre (Daniel Auteuil) tinha como meta unir duas tendências religiosas. O objetivo do casamento foi tão político que os noivos não são obrigados a dormirem juntos. As intrigas palacianas vão culminar com a Noite de São Bartolomeu, na qual milhares de protestantes foram mortos. Após isto Margot acaba se envolvendo com um protestante que está sendo perseguido. • Informações Técnicas Título no Brasil: A Rainha Margot Título Original: La Reine Margot País de Origem: França Gênero: Drama Tempo de Duração: 143 minutos Ano de Lançamento: 1994 Site Oficial: Estúdio/Distrib.: Direção: Patrice Chéreau • Elenco Isabelle Adjani .... Margot Daniel Auteuil .... Henri de Navarre Jean-Hugues Anglade .... Charles IX Vincent Perez .... La Môle Virna Lisi .... Catharina de Médici Dominique Blanc .... Henriette de Nevers Pascal Greggory .... Anjou Claudio Amendola .... Coconnas Miguel Bosé .... Guise Asia Argento .... Charlotte de Sauve Julien Rassam .... Alençon Thomas Kretschmann .... Nançay Jean-Claude Brialy .... Coligny Jean-Philippe Écoffrey .... Condé O Confronto entre huguenotes e católicos. A partir de 1550, até ao século XVII, começou-se a designar os protestantes em França por "huguenotes", principalmente os calvinistas que se caracterizavam pela crença em que todo o ser humano estava predestinado e que Deus destinou algumas almas para a salvação e outras para o mal. O termo designava no século XVI os cristãos "reformados" de Genebra, calvinistas. As crenças calvinistas radicam ainda no trabalho ser uma ordem de Deus e o sucesso material um favor por ele concedido, indo de encontro às crenças medievais de que a pobreza é uma virtude e a usura um mal diabólico, contribuindo desta forma para o crescimento do capitalismo. Assim, surgiu a célebre guerra dos huguenotes, mais conhecidas por Guerras de Religião, travadas em França no século XVI entre os protestantes e os católicos. O filme retrata a França em 1572, quando do casamento da católica Marguerite de Valois e o protestante Henri de Navarre, que procurava minimizar as disputas religiosas, mas acaba servindo de estopim para um violento massacre de protestantes conhecido como a "noite de São Bartolomeu" , que teve a conivência do rei da França Carlos IX, irmão de Margot. O filme, que retrata esse trágico acontecimento, é baseado num romance de Alexandre Dumas. A noite de São Bartolomeu, massacre de mais de 3 mil protestantes, ocorrido em 24 de agosto de 1572, marca as sangrentas lutas religiosas que atrasaram a consolidação do absolutismo francês. Esse acontecimento caracteriza a fase final da dinastia Valois, que governava a França desde a idade média. O casamento forçado entre Margot, irmã de Carlos IX (rei da França) e o protestante Henrique de Navarra (Bourbon), não paralisou as lutas religiosas entre católicos e protestantes. Com a noite de São Bartolomeu, ressurgia o combate, estimulado pelo papa, envolvendo várias regiões européias. São Bartolomeu é uma das cenas mais chocantes, onde temos a chance de olhar de uma maneira realista o confronto que pôs fim á vida de milhares de pessoas em uma das épocas mais conturbadas da história;vemos também no decorrer da trama política de Cathérine de Médici(responsável pela Noite de São Bartolomeu),o romance entre a Rainha Margot que é casada com Henrique Navarro e Lerác de La molê seu amante huguenote que são enredados na teia política de Cathérine de Médici em sua luta contra os huguenotes,nos conflitos de disputas pela coroa entre os irmãos de Margot com seu irmão mais velho o Rei Carlos em meio á crimes,traições,intrigas,incestos,paixões e um amor que resistiu á morte. Conclusão: É um filme de época. Não devemos comparar com os filmes de produções em Hollywood! É um filme até interessante. Para entendê-lo necessita ser assistido pelo menos umas três vezes, tem vários detalhes que vale a pena observar melhor. É um filme muito interessante pelo seu contexto histórico, mas que deixa muito á desejar pela mudança na adaptação da história original de Dumas, onde Margot é quase retratada como uma prostituta o que tira muito do brilho do filme. O casamento não foi realizado na catedral. O noivo protestante não deveria entrar na Notre Dame, nem assistir à missa. Diante do portal ocidental da catedral, foi construído um palco sobre o rio Sena, no qual celebrou-se o casamento. Margarida não respondeu com um "sim" à pergunta, se desejava desposar Henrique, mas fez simplesmente um aceno positivo com a cabeça. Como era comum na época, o casamento tinha motivação exclusivamente política. No século 16, o maior esteio da França não era o rei, mas sim a Igreja. E ela estava inteiramente infiltrada pela nobreza católica. Uma reforma do clero significaria, ao mesmo tempo, o constrangimento do poder dos príncipes. Há quem fale de setenta mil a cem mil mortos. Segundo relatos, os cadáveres boiaram nos rios durante meses, de modo que ninguém comia peixe. Quem deve ter ficado muito feliz com o massacre foi o papa Gregório XIII, que cunhou uma medalha comemorativa da data e encarregou Giorgio Vasari de pintar um mural celebrando o massacre.

História

História (do grego antigo historie, que significa testemunho, no sentido daquele que vê) é a ciência que estuda o Homem e sua ação no tempo e no espaço, concomitante à análise de processos e eventos ocorridos no passado. Por metonímia, o conjunto destes processos e eventos. A palavra história tem sua origem nas «investigações» de Heródoto, cujo termo em grego antigo é Ἱστορίαι (Historíai). Todavia, será Tucídides o primeiro a aplicar métodos críticos, como o cruzamento de dados e fontes diferentes.
O estudo histórico começa quando os homens encontram os elementos de sua existência nas realizações dos seus antepassados. Esse estudo, do ponto de vista europeu, divide-se em dois grandes períodos: Pré-História e História.
Os historiadores usam várias fontes de informação para construir a sucessão de processos históricos, como, por exemplo, escritos, gravações, entrevistas (História oral) e achados arqueológicos. Algumas abordagens são mais frequentes em certos períodos do que em outros e o estudo da História também acaba apresentando costumes e modismos (o historiador procura, no presente, respostas sobre o passado, ou seja, é influenciado pelo presente). (veja historiografia e História da História).
Os eventos anteriores aos registos escritos pertencem à Pré-História e as sociedades que co-existem com sociedades que já conhecem a escrita (é o caso, por exemplo, dos povos celtas da cultura de La Tène) pertencem à Proto-História.
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Ciências Sociais

As ciências sociais são um ramo do conhecimento científico que estuda os aspectos sociais do mundo humano. Diferenciam-se das artes e das humanidades pela preocupação metodológica. Os métodos das ciências sociais, como a observação participante e o survey, podem ser utilizados nas mais diversas áreas do conhecimento, não apenas na grande área das humanidades e artes, mas também nas ciências sociais aplicadas, nas ciências da terra, nas ciências agrárias, nas ciências biomédicas etc. Embora polêmica, é comum a distinção entre método quantitativo e método qualitativo.
As disciplinas do currículo mínimo das ciências sociais são: antropologia, sociologia, ciência política, metodologia científica e economia social.
As ciências sociais germinaram na Europa do século XIX, mas foi no século XX, em decorrência das obras de Karl Marx, Emile Durkheim e Max Weber que as ciências sociais se desenvolveram. O carro-chefe foi a sociologia: neologismo cunhado pelo francês Augusto Comte, seu primeiro professor.
Durkheim e seus pares se esmeraram na busca de regras de método que elevassem ao status científico o conhecimento sobre a sociedade. Marx, ao contrário, mal visto pelos seus pares, foi encontrar na classe trabalhadora sua identidade. As atrocidades das relações de trabalho da época fizeram com que ele atribuísse a esse grupo social, assim definido em relação ao sistema econômico capitalista, ora a força da transformação da sociedade, ora apenas uma peça do complexo quebra-cabeças da história. No meio-termo entre o academicismo e o militantismo, está a participação de Weber, para quem a ciência e a política são duas vocações distintas. Distintas, mas comensuráveis: ele próprio teórico da burocracia e do processo de modernização, contribuiu para a burocratização e modernização da Alemanha, ocupando cargos políticos.
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Sociologia

Mas por que o carro-chefe foi a sociologia e não a ciência política, tão antiga como o nome de Maquiavel, ou a antropologia, também anterior? A resposta há de estar no momento histórico de consolidação do novo currículo do ensino superior europeu durante o curto período de plena vigência do movimento intelectual conhecido como positivismo. Então, a nova disciplina, sociologia, veio renovar as outras duas já vigentes. Assim, um discípulo de Durkheim, Marcel Mauss, deu o tom da renovação da antropologia na França. Em um contexto diferente, o polaco Bronislaw Malinowski também contribuiu para a renovação da antropologia através do método funcionalista, que marcou uma ruptura com o viés colonialista dos estudos antropológicos até então desenvolvidos na Inglaterra.
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Antropologia

Antropologia (cuja origem etimológica deriva do grego άνθρωπος anthropos, (homem / pessoa) e λόγος (logos - razão / pensamento) é a ciência preocupada em estudar o homem e a humanidade de maneira totalizante, ou seja, abrangendo todas as suas dimensões [1]. A divisão clássica da Antropologia distingue a Antropologia Cultural da Antropologia Biológica. Cada uma destas, em sua construção abrigou diversas correntes de pensamento.
Pode-se afirmar que há poucas décadas a antropologia conquistou seu lugar entre as ciências. Primeiramente, foi considerada como a história natural e física do homem e do seu processo evolutivo, no espaço e no tempo. Se por um lado essa concepção vinha satisfazer o significado literal da palavra, por outro restringia o seu campo de estudo às características do homem físico. Essa postura marcou e limitou os estudos antropológicos por largo tempo, privilegiando a antropometria, ciência que trata das mensurações do homem fóssil e do homem vivo.
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É Justo tirar uma vida inocente?

Lutero

Lutero

Lutero no seu Tempo e o Filme

Lutero Título original: (Luther) Lançamento: 2003 (Alemanha) (EUA) Direção: Eric Till Atores: Joseph Fiennes , Alfred Molina , Bruno Ganz , Jonathan Firth , Peter Ustinov Duração: 112 minutos • título original:Luther • gênero: Biografia, Drama, História • duração:01 hs 52 min • ano de lançamento:2003 • site oficial:http://www.lutherthemovie.com/ • estúdio:NFP teleart / Eikon Film / Thrivent Financial for Lutherans • distribuidora:Casablanca Filmes • direção: Eric Till • roteiro:Bart Gavigan e Camille Thomasson • produção:Dennis A. Clauss, Brigitte Rochow, Christian P. Stehr e Alexander Thies • música:Richard Harvey • fotografia:Robert Fraisse • direção de arte:Christian Schaefer, Ralf Schreck e Václav Vohlídal • figurino:Ulla Gothe • edição:Clive Barrett • efeitos especiais:CA Scanline Production GmbH / Die Nefzers / R.S.G. Effecti Speciali S.r.l. Atores: Joseph Fiennes (Martim Lutero), Alfred Molina (Johann Tetzel),Bruno Ganz (Johann von Staupitz),Jonathan Firth (Girolamo Aleandro),Peter Ustinov (Friedrich),Claire Cox (Katharina Lutero),Uwe Ochsenknecht (Leo X),Benjamin Sadler (Georg Spalatin),Jochen Horst (Prof. Andreas Karlstadt),Torben Liebrecht (Imperador Charles V), Mathieu Carrière (Cardeal Jakob Cajetan), Marco Hofschneider (Ulrich),Maria Simon (Hanna)Herb Andress (Gunter),Lars Rudolph (Philip Melanchtlon). Lutero no seu Tempo e o Filme Início do século XVI. O Sacro Império abrange principalmente os Estados Germânicos, divididos em grandes Principados*. Em seu interior predomina o trabalho servil na terra ao mesmo tempo em que algumas cidades vivem de um comércio próspero. Apesar do termo “Império”, a situação esta longe da existência de um poder absolutista, ao contrário do que ocorre em Portugal e na Espanha. Antes da Reforma Protestante (1517), com Martinho Lutero (aliás, ele sentiu-se vocacionado ao ministério em sua juventude), vários jovens sérios e questionadores se levantaram, criticando a situação da Igreja de sua época. Os escritos e idéias de um homem de Deus, chamado John Wycliffe (professor da Universidade de Oxford na Inglaterra), que viveu de 1328 a 1384, influenciaram enormemente a vida de um jovem de menos de 20 anos, de nome Jonh Huss, que vivia em outro país, a Boêmia, na cidade de Praga (hoje, República Checa). Jonh Huss (1373 – 1415) continuou seus estudos e tornou-se reitor da Universidade de Praga. Pregava firmemente, contra a baixa moralidade dos líderes religiosos, e alcançou grande apoio do povo. Foi condenado à fogueira pelo Papa. Mas as idéias de John Huss influenciaram a Martinho Lutero (foi chamado por seus inimigos de "Huss Saxão ou Huss Alemão"), que viveu anos depois e provocou transformações serias na Igreja Cristã. Outro homem, cujas idéias influenciaram muito a Martinho Lutero, foi um rapaz de Florença, chamado Savonarola. Em 1519, assumiu o trono Carlos V, que era rei dos Países Baixos desde 1515 e rei da Espanha desde 1516. Pretendendo unificar seus vastos domínios e a instaurar uma monarquia universal católica, o Imperador foi obrigado a enfrentar os príncipes germânicos, contrários a centralização do poder. As disputas políticas envolvendo a tendência centralizadora do imperador e os interesses dos príncipes foi uma constante desde a formação do Sacro Império. Esta situação de disputa política foi aproveitada por Lutero, que atraiu os Príncipes para suas idéias reformistas, na medida em que o imperador era católico, e por sua vez pretendia utilizar o apoio da Igreja Católica para reforçar sua autoridade. Parcela significativa da burguesia também apoiou as teorias de Lutero, que reforçava o individualismo. Lançado como superprodução, com boa fotografia, figurinos, atores famosos, esse filme peca por tentar abarcar todo o processo de nascimento da Fé Luterana e conseqüentemente da Reforma, o que tornou o filme cansativo. O Lutero que nos é apresentado não tem bom senso germânico e nem impressiona pela sua religiosidade. Parece que falta fé! A narrativa parece descrever a história de um personagem político. O modo de atuar parece ser genuinamente americano, não tem a densidade psicológica do cinema alemão. O filme fica a dever, não espelha o sentimento revolucionário da Reforma! Não adianta falar apenas de "Lutero", porque ele não foi o único a participar dessa Revolução da Reforma Protestante, teve outros momentos (na qual o filme não mostra) que contribuíram para a Igreja Católica fazer a Contra Reforma. O filme foi bom até um certo ponto, mas eu acredito que Lutero foi muito mais além do que o filme quer mostrar.O filme é, definitivamente, incompleto. O final ficou bastante a desejar, tão decepcionante. Como fecho de análise desse filme o grande mérito de Lutero é valorizar, sobretudo, o aspecto religioso, sem fugir do social que intervinha sobre todo o contexto da época, gerado, principalmente, pelo jugo da igreja Romana sobre o povo, valorizado pela Revolta dos Camponeses. O próprio Lutero procurou conciliar as facções, e não conseguindo, condenou a rebelião dos camponeses. Cabe destacar que a repressão dos latifundiários sobre os camponeses foi executada com crueldade. O filme relata a vida de Martinho Lutero, um jovem alemão burguês que após quase ser atingido por um raio acreditou ter recebido um chamado divino e por isso juntou-se a um mosteiro. Sendo educado num monastério, tornou-se um monge completo de ideologias e com essas idéias lutou para transformar a igreja católica, pois criticava suas regras e a validade das indulgências (documento com o perdão dos pecados), que eram vendidos pela igreja. Martin Lutero carregou consigo, durante algum tempo, um extremo desejo de se tornar padre. Em 1507 chegou a Enfurt, na Alemanha para trabalhar como professor de Teologia na Universidade de Wittemberg que fora fundada pelo Príncipe Frederico III. Sua falta de satisfação em sua primeira missa, Lutero obteve um desequilíbrio emocional. Na verdade, dúvidas que pairavam em sua mente, começaram a ganhar força. A partir deste momento, tais questionamentos sobre a postura da Igreja Católica começaram a incomodar os conceitos de Lutero, que acreditava na existência de um caminho "gratuito" ao amor de Cristo e da salvação. No filme Lutero é enviado a Roma e aparece transitando pelas ruas, o espectador tem uma clara imagem da deplorável condição social da maioria das pessoas, consideradas súditos do rei e devotos do papa. Essa condição social pode ser expressa em dois termos: ignorância e superstição. Essas condições as desejadas pelo papado para configurar seus projetos de domínio das consciências humanas. A ignorância deixava as pessoas na incapacidade de visualizar a forma correta de aproximar-se de Deus; a superstição permitia ao papado extorqui-las com ameaças do fogo infernal. Devido à condição social das pessoas, naquele período da História e da corrupção do papado, o ambiente para uma execução reformadora dos procedimentos da Igreja e dos meios de alcançar a salvação, estava plenamente configurado. O último impulso para dar início ao movimento reformador foi determinado pela presença do representante papal, oferecendo os benefícios das indulgências. As cenas projetadas, que exibem essa condição social, impressionam ao apresentar multidões de famintos e esfarrapados, vítimas anônimas da exploração clerical, depositando nos cofres papais suas míseras moedinhas, para poderem eles e seus queridos falecidos se livrar das assaduras eternas do inferno. O próprio Lutero segue, em cena, uma longa fila para apreciar com reverência o crânio de João Batista, e na condição de penitente, ascende de joelhos sobre os degraus da “Escada de Pilatos”, aquela que, segundo o papado, Jesus subiu durante seu julgamento e que foi levada por anjos até seu lugar, em Roma. Logicamente, esses objetos como todas as relíquias dessa época eram fraudulentos, levantando em Lutero um sentimento de cólera. Em Roma o novo papa Leão X, ( Uwe Ochdenknecht ), decide financiar a construção da nova basílica de São Pedro, por intermédio da venda de indulgências que, na Alemanha, fica a cargo do monge dominicano John Tetzel. Tetzel participava do processo de inquisição da Igreja. Deslocou-se da Espanha para Wittenberg, com intuito de trazer aos fiéis uma "esperança divina", visto que o julgamento de Deus estaria próximo. Tetzel proferiu um discurso aos fiéis da região com direito a imagens do purgatório para que os "verdadeiros tementes a Deus" pudessem conhecer o seu poder, recomendando assim, a compra da "passagem" ou livramento do purgatório. Alguns moradores da região "adquiriram" seu livramento após serem convencidos pela Igreja. Essas pessoas se encontraram com Lutero, que por sua vez, se mostrava piamente contra as indulgências, mencionando que tudo não passava de papéis com dizeres de meros homens. Martin Lutero Condena ensinos errados, alegava ainda, que somente o amor de Cristo era capaz de providenciar paz de espírito, o alcance deste amor era oferecido por meio da Bíblia, gratuitamente.Pregava salvação em Cristo e não a igreja. A Igreja Católica centralizava seu poder sobre os fieis privando-os de possuírem um exemplar da bíblia, sob alegação que jamais poderiam entendê-la, devido a sua complexidade. Diziam ainda que o papel de ensinar as orientações de Deus era uma responsabilidade exclusiva da Igreja Católica, "comandada" pelo Papa. Lutero prega 95 Teses pessoalmente na porta da Catedral de Wittemberg. Fiéis da região passaram a ler o que havia nos papéis afixados. Em seguida, os escritos de Martin foram publicados em grande escala, atingindo assim, um maior número de pessoas, inclusive o Papa obteve rápido acesso deste material. Mais tarde Lutero é conduzido ao papa e afirmou suas teses, e suas obras são queimadas. Assim que a Igreja tomara conhecimento dos pensamentos de Lutero com respeito às "verdades" do catolicismo, o Papa Leão X designou um de seus cardeais para conversar pessoalmente sobre o assunto. Lutero respeitou tal solicitação e conversou com um representante oficial do Papado. Nesta ocasião, muitos achavam que Martin revogaria suas afirmações em respeito à Santa Igreja. Alguns de seus companheiros mais achegados o aconselharam a não desafiar Leão X, com receio à ser condenado como um herege frente a "Santa Igreja". O próprio Cardeal jamais esperava ouvir a reafirmação de Lutero sobre tudo o que já havia escutado por meio de outras pessoas e, sobretudo, pro meio de suas teses. A partir deste momento, Lutero deixou de ser considerado católico, definitivamente. Martin Lutero não ficou livre das intenções da Igreja em julgá-lo pela elaboração das 95 teses. Leão X queria um "julgamento" em Roma. O Príncipe Frederico não concordou com as intenções da Igreja e conseguiu um acordo com seu sucessor, Carlos V para que tal situação ocorresse em Wittemberg. O Imperador disse ainda seria montado um esquema de segurança para Lutero, com intuito de acompanhá-lo até os limites da região. Esta segunda parte do acordo não foi realizada por Carlos V. Foi neste momento que Frederico demonstrou seu verdadeiro apreço por Lutero, providenciando alguns de seus homens para o "capturarem" antes da Igreja. Lutero ficou escondido em nos arredores da Universidade, foi também neste momento que Lutero tomou a decisão de traduzir a Bíblia para a língua alemã. Enquanto estava escondido, Lutero ganhou tempo para traduzir a Palavra de Deus para língua alemã. Desta forma, ele esperava poder oferecer o acesso da bíblia a muitas outras pessoas que estavam verdadeiramente interessadas. Um dos exemplares fora dedicado especialmente ao Príncipe Frederico, que o aceitou de muito bom grado. Katharine Von Bora, uma freira que havia lido todo material de Lutero e queria muito o conhecer pessoalmente. Katharine foi além, casou-se com Martinho e teve filhos. Nos registros da História se encontra a rebelião armada de camponeses que ocorreu no ano 1525, na Alemanha, ou seja, pouco depois da Dieta de Worms. A causa desse levante era a situação social e econômica à qual estavam submetidos os camponeses. (A Dieta de Worms (em Alemão: Wormser Reichstag) foi uma reunião de cúpula oficial, governamental e religiosa, chefiada pelo imperador Carlos V que teve lugar na cidade de Worms (Alemanha), entre os dias 28 de Janeiro e 25 de Maio de 1521 ) Dieta de Worms é sobretudo conhecida pelas decisões que dizem respeito a Martinho Lutero e os efeitos subsequentes na Reforma Protestante. Lutero foi convocado à Dieta para desmentir suas 95 teses, no entanto ele as defendeu e pediu a reforma da Igreja Católica, entre 16 e 18 de Abril de 1521. O Feudalismo os havia reduzido a um estado de virtual “escravidão”, sem proteção das leis. Dessa forma, estimulados pela rebelião religiosa propiciada por Lutero, os camponeses ficaram mais fortes e decididos nas suas pretensões, e a Reforma se tingiu com a cor da política e o movimento social. O próprio Lutero procurou conciliar as facções, e não conseguindo, condenou a rebelião dos camponeses. Cabe destacar que a repressão dos latifundiários sobre os camponeses foi executada com crueldade. No filme, as escassas cenas de ambiente de prosperidade espiritual promovida pelo movimento de Lutero se observam na reunião dos príncipes que apóiam a causa luterana, celebrada antes do encontro com o rei Carlos V. A outra é na atitude de humildade diante do rei Carlos V, na Dieta de Ausburgo, confirmando sua decisão de não seguir as tradições católicas, ainda que essa atitude lhes custasse a própria vida.Assim sendo foi alcançada liberdade religiosa. Era o “protesto” dos príncipes, embora nas cenas permaneçam excluídas e nem sequer se faça menção da “Confissão de Ausburgo”, que contém a declaração da doutrina da salvação mediante a fé em Cristo Jesus. Ninguém duvida que Lutero tenha sido o grande reformador da Igreja; mas, que ele e só ele tenha efetuado essa obra, é, no mínimo, ignorar o papel desempenhado por dois movimentos que o precederam, cuja função foi a de aplainar sua estrada de atuação. Esses dois movimentos foram a Pré-reforma e o Humanismo. Sobre o filme na sua apresentação plena, podemos no entanto, é preciso destacar, em síntese, que o movimento de Lutero, embora tenha sido levado pelos ventos da reivindicação político-social, permitiu que o cristianismo ou os seguidores de Cristo e seu evangelho bíblico tivessem a oportunidade de conhecer o verdadeiro processo de redenção: a justificação pela fé. *Um principado é um território governado por um príncipe. É distinto de um reino, normalmente porque tem um tamanho modesto, outras vezes porque não tem soberania total.

Meus Filmes

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A Queda! As últimas horas de Hitler

Adolf Hitler era um mostro! Um indivíduo que marcou de sangue o século XX. Uma das mais desprezíveis figuras da história da humanidade. Porém, mesmo com tudo isso, não podemos receber com pedras nas mãos um projeto que humanize (um pouco, diga-se de passagem) sua figura. Até porque ele era um ser humano, ou seja, era capaz de sorrir em determinados momentos e até mesmo demonstrar afeição por uma mulher. Atitudes como estas são comuns para todo ser humano, independente de seu caráter. Uma coisa não tem nada haver com a outra. O que há de mais importante em “A Queda!” é justamente sua imparcialidade. Mesmo tendo Hitler como protagonista o longa consegue não se expor, no sentido que em momento algum defende seus ideais. Ou seja, qualquer crítica que venha receber (de anti-semita, por exemplo) é injusta. Trata-se de um dos melhores filmes já feitos que tiveram como base a 2ª Guerra Mundial (e olha que foram muitos). Não é um filme baseado em Hollywood e sim nos acontecimentos reais. Talvez por isto o filme tenha incomodado tanto. Por não ter um protagonista judeu, por não citar o exército norte-americano e por diversas outras situações. “Der Untergang” (título original) é história. Uma reconstituição dos últimos dias do Império Nazista. O longa se passa entre os dias 30 de abril e 8 de maio de 1945. Este período abrange o último aniversário de Hitler, seu casamento com Eva Braun, seu suicídio e o cessar fogo completo entre a Alemanha e as tropas vencedoras da União Soviética. O 3º Reich durou 12 anos (1933/45) e sucumbiu em apenas 12 dias, e são justamente esses últimos momentos que o filme retrata. Baseado nos livros “Der Untergang” (“No Banker de Hitler: Os Últimos Dias do 3º Reich”), de Joachim Fest, e “Bis zur letzten Stunde” (“Até a Hora Final: A Última Secretária de Hitler”), de Traudl Junge e Melissa Müller, “A Queda!” conta com uma competente direção de Oliver Hirschbiegel. O cineasta contou com a ajuda de uma equipe técnica em total sintonia e com a presença de atores de primeira grandeza no cinema europeu. O maior deles é Bruno Ganz (“Pão e Tulipas” e “Sob o Domínio do Mal”), que dá vida justamente a Adolf Hitler. Como a mais detestável figura do século passado, Ganz surge com a maior performance artística deste século!!! Tudo bem que estamos no início do século, mas sua interpretação vai ser difícil de ser superada nos próximos anos. O ator está impecável como Hitler. Ele não apenas se parece com o comandante alemão, ele consegue convencer que é Hitler. Durante os 156 minutos de projeção vocês se esquece que se trata de um filme e acompanha como se fosse um documentário, como se aquele indivíduo sendo filmado fosse realmente o pai dos nazistas. O mais impressionante em relação a performance de Bruno Ganz é o fato deste não ter sido indicado a nenhum prêmio. Meus elogios em relação a atuação de Ganz podem soar um pouco exagerados, mas pensem no desafio (físico e psíquico) que é interpretar uma figura como Adolf Hitler. Para terem uma idéia do que o ator passou para compor o personagem, saibam que Ganz se preocupou em como falar como Hitler na intimidade, longe dos discursos políticos às multidões. Segundo historiadores, o ditador falava muito baixo, e para tentar ser o mais verdadeiro possível, o ator ouviu insistentemente a única gravação sonora (sem imagens) que existe de Hitler, que foi feita na Finlândia, durante uma visita ao marechal e barão Carl Gustav Emil Mannerheim. Para aumentar o tom documental do longa e deixar o espectador ainda mais atordoado com a forma em que o carisma de Hitler tampava os olhos da população alemã na época, o diretor termina seu filme com um depoimento de Traudl Junge, retirado do documentário “Eu Fui Secretária de Hitler”. “A Queda! As Últimas Horas de Hitler” foi o filme mais caro já realizado na Alemanha (€ 13,5 milhões) e por lá foi assistido por 4,5 milhões de pessoas. O filme também fez bastante sucesso nos Estados Unidos, onde arrecadou mais de US$ 4,5 milhões, tendo sido lançado em poucas salas, e na Inglaterra, onde foi o filme de língua alemã com maior renda de toda a história, com £ 1,3 milhões arrecadados. O sucesso internacional do filme foi tanto que lhe deu uma indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (perdeu para “Mar Adentro”) e lhe garantiu distribuição em Israel, país com cerca de 280 mil sobreviventes do Holocausto. O distribuidor Nurit Shani, dono de uma rede de cinemas do país, afirmou que 91% dos presentes a uma exibição prévia de “A Queda!” aprovaram a exibição do filme em Israel. Em contrapartida o Centro de Direitos Humanos Judaico afirmou que prefere que as pessoas evitem assistir ao longa. Já vocês, leitores da Confraria, não devem deixar de assistir a esta comovente obra-prima. Trata-se de um dos melhores filmes de guerra já feitos e que conta ainda com uma atuação inesquecível de Bruno Ganz.

Davi de Michelangelo

Davi de Michelangelo

renascimento e o “Davi” de Michelangelo Bunarroti

No século XIV ao XVI o mundo passou por grandes mudanças em múltiplas áreas. Na religião, nas ciências, nas relações comerciais, sociais e políticas. O espírito de descontentamento levedava, por assim dizer, os centros do saber da época numa exacerbada crítica as aventuras vigentes nas sociedades. As cruzadas abriram caminho para contatos comerciais com o Oriente, favorecendo o fluxo de mercadorias e o crescimento do comércio. Começaram, por esse tempo, a se formar as cidades ou burgos como resultados das atividades comerciais. A figura do rei surge a partir da necessidade de unificação da moeda (entre outras coisas) para minimizar distorções no comércio realizado entre os produtores dos feudos. O senhor feudal mais poderoso de uma região, recorrido para aliviar as tensões, se encarregava não ó da moeda, mas da proteção dos feudos menores. A centralização do poder desses senhores mudará a política da Europa, essa instituição, que se forja por uma busca de unificação e normatização nas relações, chamaremos de estado moderno. A sociedade, sensivelmente transformada pela peste negra e a guerra dos cem anos passa a exigir a abolição dos laços de dependência social e da regras corporativas; há também uma falta de mão de obra, resultado da peste e da guerra. Os indivíduos se sentem como tal e competem entre si, o que determinará o sucesso será segundo Maquiavel, quatro fatores: acaso, engenho, astúcia e riqueza. Neste contexto a educação será imperativa. A capacidade criativa da personalidade humana, sua inventividade técnica na exploração da agricultura, dos mineiros, a criação da imprensa e de novos tipos de papel e de tintas, a metalurgia, da construção naval e navegações, de armamentos e guerra dão um ritmo acelerado às descobertas, inclusive de novas terras, ampliando as fontes de riquezas a novas veias de trabalho por um lado por outro lado, e por outro dando uma noção mais precisa sobre o tamanho do globo terrestre, o que por si só já representa uma quebra enorme do paradigma eclesiástico de que a terra era o centro do universo, resultando na exaltação da a capacidade do homem em vencer desafios e romper com limites impostos. Diante dessas circunstancias as experiências e a observação atenta e metódica da natureza valoriza a razão como critério de verdade cientifica. O homem, aplicado ao desenvolvimento pessoal, se torna o centro é o antropocentrismo que se afigura no cenário de um novo mundo. Características comuns do renascimento. • Resgate estético da cultura greco-romana, a busca da perfeição na confecção de escultura e pinturas. • O antropocentrismo, a valorização das capacidades artísticas e intelectuais dos seres humanos. • A ênfase da ciência e da razão, trazendo explicações racionais para aquilo que é natural e social. • A valorização dos conjuntos de princípios que valorizavam as ações humanas e valores morais tais como: respeito, justiça, honra, amor, liberdade, solidariedade e outros. O renascimento é então, por sua visão crítica á ordem vigente, e em especial ao papel da igreja romana sobre a sociedade, um movimento de revalorização da antiguidade greco-romana. Atribuíram ao período que se localizava entre o renascimento e a antiguidade o nome de era medieval. Tempo no qual se atravancou o desenvolvimento do homem, e este por mais de mil anos sob a regência da igreja (representante de Deus na terra), como uma espécie de marionete da religião. O obscurantismo, ou idade das trevas (termo cunhado por Petrarca) como ficou conhecido o período, também representou, por assim dizer, a morte do homem desafia e vence a interferência dos deuses no destino humano e se liberta como de um cativeiro. Foi um tempo caracterizado pela expressão de novas idéias técnicas, valorização da escrita, das ciências, das artes, pela busca da beleza e do conhecimento. É sob essas circunstancias que nasce no dia 6 de março de 1475, Miguel Ângelo di Lodovico Buonarroti. Foi um dos maiores representantes do renascimento. • Nascido em 6 de Março de 1475 na cidade de Crapese Itália. • Morte 18 de Fevereiro de 1564 em Roma na Itália. • Nacionalidade Italiana. • Ocupação: Escultor, arquiteto, engenheiro, poeta e pintor. • Movimento estético: Renascimento e maneirismo. • Conhecido por: Davi, teto da capela sistina e Pieta. Principais obras de Michelangelo • A fresco da capela sistina. • Criação de Adão. • Julgamento final. • Martírio de São Pedro. • Conversão de São Paulo. • Cúpula da basílica de São Pedro. • Esculturas: Davi, Leda, Moisés, e Pietá. • Retratos da família Médici. • Livro de poesias: Coletânea de rimas. • A Madona dos degraus (relevo). Sua arte se destacava pela perfeição das formas, a matemática das proporções, o uso do claro e do escuro (luz e sombra) que deixa suas pinturas quase tocáveis, embora considerasse a pintura uma arte limitada, preferia a escultura. Usava os trabalhos que fazia para expressar suas idéias. Na capela cistina, por exemplo, em volta das cenas de personagens bíblicos, cujos contextos são nitidamente de ética paternalista israelita, de moral rigorosa e juízo severo, ele as descreve com certo humor e irreverência. Estão lá apenas para mostrar a beleza e a perfeição do corpo humano, homens de corpos atléticos, às vezes gordos, mas sinuosamente delicados no rosto, corpo e posições. As mulheres são igualmente atléticas, tanto que nus só se diferenciam pela presença dos genitais masculinos e dos seios. Provavelmente isso se deva a valorização do período greco-romano, mostrava o homem como a mais perfeita obra da natureza, nos mínimos detalhes tanto nas pinturas como nas esculturas, desde a posição dos pés até os cabelos. Agora, se considerarmos que essas obras foram feitas num tempo em que as pessoas raramente ficavam nuas, às vezes até para se banhar, dá para fazer uma idéia do impacto das mesmas. Dentro das principais obras de Michelangelo, temos a estatua de Davi, a qual especificará para entender esse período tão importante. David ou Davi é uma das esculturas mais famosas do artista renascentista Michelangelo. O trabalho retrata o herói bíblico com realismo anatômico impressionante, sendo considerada uma das mais importantes obras do renascimento e do próprio autor. Essa escultura não foi feita por acaso. A historia de um rapaz, talvez adolescente em franco desenvolvimento, enfrentar um gigante e vencê-lo com uma funda e cinco pedras já é impressionante de imediato. Se o gigante fosse o mais preparado e experiente guerreiro do exercito filisteu tornaria o caso ainda chocante, e essa era a realidade no relato bíblico. Some-se a isso a crença de que alguns povos antigos entendiam que pessoas muito altas ou fortes fosse fruto da relação dos deuses (ou anjos) com as mulheres, tidos por isso como semi-deuses ou filhos dos deuses. O quadro começa a fazer sentido, o adolescente ou jovem, o que, aliás, explica a desproporção dos pés, mãos e cabeça. No período da puberdade está formando sua própria moral, seus princípios, sua ética é um contestador nato. Embora não seja um adulto já se sente capaz para enfrentar o mundo. Confia nas suas capacidades para desafiar grandes inimigos e vencê-los. Assim o movimento renascentista se encontra representado no jovem Davi que, com a funda para projetar sua munição contra o gigante o derruba e lhe corta a cabeça com uma espada. A funda no movimento pode ser tipificadas nas projeções das idéias nas mais variadas áreas do saber, nas novas práticas comerciais, no novo cenário político etc. O gigante talvez seja um símbolo apropriado da divindade (ou da igreja que a representava) desafiada e contestada em seu domínio cristão milenar. É praticamente impossível esgotar o assunto sobre Michelangelo por isso nos detemos somente sobre sua importância sobre o renascimento que foi um período muito importante para todos para eles e para nós, mesmo ficando somente no renascimento foi necessário que direcionássemos a uma obra especifica, pois não seria possível em tão pouco tempo realizar um trabalho tão ampla sobre Michelangelo. Demos à preferência a estatua de Davi que no ver do grupo tipifica de forma esplendida o renascimento se não sua totalidade, mas bastante elucidativa. O renascimento estava latente na vida de Michelangelo, até na forma de lutar pelos seus ideais, mesmo, aos 13 anos se impôs e foi para a escola de arte de Domenico Ghirlandaio, em pouco tempo foi aperfeiçoar-se no jardim do mecenas Lourenço, saindo dali quando Lourenço morreu. No ano de 1501 Michelangelo volta a Florença e então esculpi a estatua de Davi que levou aproximadamente 4 anos para ficar pronta. Grupo de Alunos do 3º Semestre de História Bibliografia - Pesquisada. Martindale, Andrew. O mundo da arte /o renascimento. Editora EXPED. Richmond, Robin. Michelangelo. Rio de Janeiro. Editora Salamandra Consultoria editorial. Site.www.sua pesquisa.com (18/03/2010 às 19:02h)

Pintura Renascimento

Pintura Renascimento

Fichamento " Uma Arte"

1808 - Laurentino Gomes

Eu sou Povo!

http://www.youtube.com/watch?v=LwYqDVndp7Y

SANKOFA

A palavra, da língua dos povos akan da África Continental, sobretudo Gana e parte da Costa do Marfim, tem uma conotação simbólica muito forte de recuperação e valorização das referências culturais africanas. A referência não deve ser entendida como uma volta ao passado, mas como fundamento de para construção de uma identidade própria, viva,tanto no presente como na perspectiva de um futuro melhor para os filhos e descendentes desse sofrido continente. A África foi vitima do maior holocausto que o mundo já conheceu, desdobrado em dois momentos: O tráfico escravista árabe dos séculos VIII e IX e o mercantilismo europeu dos séculos XV e XIX. Além do objetivo imediato ( A casa de mão de obra cativa). O holocausto europeu dos últimos 500 anos também visou à aniquilação da identidade dos filhos da África e a sua integração ao modelo ocidental. Considerado universal. Ambos os Objetivos deixaram de ser alcançados devido a resistência dos povos que foram alvos do racismo. A noção comum de racismo como um fenômeno reativo apenas à cor da pele escamoteia sua natureza mais profunda, que reside na tentativa de de desarticular um grupo humano por mio da negação de sua existência e de sua personalidade coletiva. Reduzir o africano e seus descentes à condição de “negros”, identificados apenas pela epiderme, retira deles o referencial histórico e cultural próprio. Assim sua própria condição humana é roubada. Esse processo de desumanizar os povos negros tem origem em uma história muito remota de conflito e dominação. O escravismo e o colonialismo europeus. Estes fizeram questão de identificar os africanos como negros ou kaffirs, desvinculando-os simbolicamente de sua terra. Europeus brancos intitularam-se afrikaaners presumindo-se dono dessa terra no lugar dos nativos. No contexto americano, o mesmo processo presumiu anular a auto-imagem dos africanos como gente livre e soberana vivendo em sua terra natal. Nomeando-os “ negros” nigerss, coons ou crioulos, o dominador negava-lhes a referência da terra, cultura,e história, assim reduzindo sua identidade à cor, que passara a simbolizar sua condenação à inferioridade e à escravidão. América chamada “Latina”, sofrem hoje a falta de referência histórica que lhes permitirá construir uma auto-imagem digna de respeito e auto-estima. A identidade “ negra” é calcada nas desgastadas categoria de ritmo, esporte,vestuário,e culinária.

História e Cultura Afro-brasileira- Sankofa


1)- De muitas maneiras tem se tentado impedir uma historiografia africana verdadeira e mundial; por mitos do colonialismo e o eurocentrismo, é o que iremos citar exemplos de alguns desses: A) Desarticulação de um grupo humano.Querer reduzir os africanos a condições de “negros” negar sua própria existência, retirando a sua história e cultura, roubando sua condição humana.
B) O escravismo Árabe, o mercantilismo europeu (caça de mão de obra cativa) o holocausto nos últimos quinhentos anos tentou aniquilar os filhos da África.
C) Na América “latina” hoje os “negros sofrem por lhe faltarem uma identidade e auto-estima, essa é vista pela suas categorias de ritmos: Esportes, vestuários, danças e culinárias. A “cultura negra”, definida pelos padrões da elite dominante da sociedade. Portanto muito pouco na atividade intelectual, técnica e tecnológica, científica, política, religiosa e econômica, são mais atributos de pessoas brancas exclusivo da ocidental.
D) Muitos na sociedade recebem e transmitem essa imagem implícita pela elite, e exclui o “negro”, criança, jovens e adultos, que se reproduz e lhe falta possibilidade profissional , social e econômica.
E) Há uma distorção na história dos africanos.Esses são representados como tribais , primitivos, raça inferior.Vejamos um exemplo Hegel: a África seria “uma terra da criancice, que ficou lá longe do dia da história”. “Os negros tem o sentimentos morais fracos, inexistentes”,conclui ele.
F) Outro exemplo na África antiga são as ruínas de Momomatapa, localizada no Grande Zimbábue. A construção cidade murada, império que durou trezentos anos.Muro de 250 metros extensão e quinze mil toneladas de granitos, contento cada metro 4.500 blocos de granito. À África já foi atribuída por historiadores e estudiosos a povos exógenos (são forças do exterior da Terra que alteram a paisagem) e até a extraterrestres.
G) Muitas conquistas africanas se perderam, a tradição, os costumes, as histórias por falta da escrita e pelo uso da tradição oral; também pelo holocausto sofrido, devastação de centros africanos por séculos destruídos, jovens levados a cativeiros, e o pouco que restou foram saqueados e queimados da biblioteca de Alexandria, por gregos , macedônios por não falar de romanos, então assim prevaleceu a imagem do selvagem atrasado e ignorante! E muito mais ocorreu, hieróglifos em papiros, material perecível que se destruía facilmente,sendo que é um contraste da escrita cuneiforme da antiga Suméria , ou Babilônia, registrado em matérias duráveis como pedra ou barro, contrabando de artes e artefatos, símbolos do poder político científico e religiosos levados para museus europeus.
H) Outro fator relevante foi o enfoque que europeus deram sobre tudo o que os antropólogos examinavam; grupos de uma conjuntura como se este estivesse sempre naquela condição de tribais e primitivos.

2)- Sankofa, palavra língua akan da África ocidental, sobretudo Gama é Costa do Marfim, com conotação simbólica forte, buscando recuperar a valorização das culturas Africanas. Sankofa pertence conjunto de símbolos gráficos de origem akan chamado adinka.(adeus) Sankofa significa, voltar as suas raízes e construir sobre elas o desenvolvimento, o progresso e a prosperidade de sua comunidade. Em todos os aspectos da realização humana. O ideogramas. * É uma estilização do pássaro que virá a cabeça para trás, sempre podemos retificar os nossos erros. Mesmo conceito do bando do rei e do bastão do lingüista: A sabedoria aprende com o passado para construir o presente e o futuro*ideogramas (símbolo gráfico para representar uma palavra)

3) A- podemos ver que há indícios na área da medicina que os médicos egípcios operavam tumores cerebrais, removiam cataratas. Médico do povo banyoro, conhecimentos de cesarianas e procedimentos, técnicas como: assepsia,anestesia,hemóstase, cauterização etc. Portanto não é exato atribuir a Hipócrates como sendo o “Pai da medicina”, a saber que no Egito o cientista Imhotep, cerca de 2800 a.C domina técnicas básicas da medicina, vacinação,farmacologia, assepsia, hemóstase e cauterização. “Datada de 2.600 a.C., o papiro Smith, contém capítulos sobre doenças intestinais, helmintíase, oftalmologia, dermatologia, ginecologia, obstetria, diagnóstico de gravidez, odontologia, e o tratamento cirúrgico de abscessos, tumores, fraturas e queimaduras”. Fonte: http://afrobrasileira.multiply.com/journal/item/8 Mãe África e Civilização- Elisa Larkin Nascimento

B- Além da medicina, os hieróglifos em papiros, material perecível se destruía fácil, sendo que é um contraste da escrita cuneiforme da antiga Suméria , ou Babilônia, registrado em matérias duráveis como pedra ou barro.
4)- A importância está em como vemos e aprendemos com a história, o Brasil é um País que tem um povo miscigenado, portanto todos devemos buscar o direito em comum de resgatarmos juntos também o passado,(indígena e negro), só lembrando que no caso dos Africanos esses foram esmagados, isso interrompeu no desenvolvimento do seu continente e sua história; fazendo que esses venham se empenhar,buscar suas raízes. Quanto a nós isso não nos desvincula dos africanos por todo mundo, a identidade afro-brasileira alarga uma identidade coletiva possibilitando a todos contribuir para o crescimento da nação.

Indícos de tribo perdido (Peru)

http://video.msn.com/video.aspx?mkt=pt-BR&vid=ebcf0a82-3d74-45c7-9b8a-d6228e60ef82A tribo perdida A tribo perdida

A conquista do Paraiso

Lançado no aniversário de 500 anos da descoberta da América, o filme gira em torno de Cristovão Colombo (Gerard Depardieu) e da chegada dos europeus ao Novo Mundo. A história acompanha desde os preparativos, com o navegador visionário recorrendo à coroa espanhola, até o terrível impacto da descoberta e do início da colonização sobre a população nativa. As dificuldades e temores da navegação, a perseverança de Colombo e o desafio da terra desconhecida fazem parte da aventura, que não descarta a brutalidade que envolveu os fatos.

1492 A Conquista do Paraiso

http://www.youtube.com/watch?v=cH-DYRNTIR4

Império Romano

http://www.youtube.com/watch?v=sLdoSf3Kth4

Behaviorismo - Walden Two: A Visão de Skinner

Walden Two: a visão de Skinner
Um modo pelo qual Skinner tentou transmitir sua ideia da sociedade experimental, ou em experimentação, foi descrevendo-a em seu romance Walden Two. Como ficção, o livro oferece ilustrações concretas de como uma sociedade em experimentação poderia ser. Como um ensaio que defende as virtudes de uma sociedade em experimentação, ele é indireto, porque Skinner passa seu ponto de vista através de diálogos entre seus personagens. Para apreciar o livro em toda sua extensão, é necessario interpretá-lo à luz das concepções de Skinner
Interpretação de Walden Two
O livro começa com dois professores universitários de meia-idade, Burris e Castle, decidindo visitar uma comunidade experimental localizada em uma fazenda no meio-oeste americano. Eles de defrontam com um povoado lozalizado em um pequeno pedaço de terra com um aprazível plano urbanístico, de aproximadamente mil habitantes. Os dias que lá passam são denominados pelas conversas com Frazier, o criador da comunidade, que ainda lá vive, mas que então tem uma influência apenas marginal no que diz respeito a seu funcionamento.
Uma maneira de Lê-lo é como se o livro fosse uma batalha entra Frazier e Castle para conquistar a adesão de Burris. Castle, descrito como uma pessoa confortável em seu papel acadêmico, um filósofo com excesso de peso e verbalmente beligerante, é a personificação do mentalismo. Frazier, homem de ação, é descrito como vigoroso e combativo, excessivamente autoconfiante. Ele representa a esperança em um mundo novo baseado na tecnologia comportamental. Burris, pouco à vontade em seu papel de acadêmico, descontente com a vida que leva, está aberto à persuasão. Pode-se dizer que nenhuum dos três representa Skinner, embora possamos imaginar que as discussões que acontece mentre eles, especialmente entre Frazier e Burris, poderiam se assemelhar às discussões de Skinner consigo próprio.
À medida que Frazier lhes mostra a comunidade Walden Two, Burris e Castle conhecem vários aspectos daquela cultura, suas práticas relativas à economia, governo, educação casamento e lazer. Frazier explica que as práticas são baseadas em princípios comportamentais. Castle aponta problemas e usa argumentos mentalistas que Frazier refuta. Burris vacila. Uma após a outra, as objeções à ideia de uma sociedade em experimentação são levantadas - a maioria por Castle, algumas por Burris - e respondidas.
Cada um dos aspectos de Walden Two é retratado como funcionando melhor que no Estados Unidos, de modo geral. Não há necessidade de dinheiro; as pessoas ganham crédito de trabalho por realizarem terefas úteis - mais crédito por hora em tarefas trabalhosas (como lavar janelas), menos crédito em tarefas agradáveis (como ensinar). O governo é tão sensível às manifestações de seus cidadãos que as eleições ficaram obsoletas. Ensina-se às crianças como se auto-educarem, de forma que necessitam apenas de uma leve orientação dos professores. As pessoas desfrutam de períodos enormes de lazer e os usam de maneira produtiva. O vestuário é variado. As interações sociais são diretas e carinhosas. Acima de tudo, todo mundo está contente. Burris passa eventualmente por um tipo de conversão, deixa Castle em sua viagem de volta à universidade, e retorna a Walden Two para ficar.
Walden Two é um utopia?
Claro, Walden Two parece bom demais pra ser verdade. O Livro tem sido frequentemente classificado como uma obra utópica de Thomas More, Utopia. Várias ficções desse tipo já foram escritas, em geral sobre uma comunidade pequena e isolada, onde a vida é de longe muito melhor do que no mundo que vivemos. Sob um ponto de vista superficial, Walden Two se encaixa nesse modelo.
Skinner, porém, negou que o livro fosse utópico, afirmando de pretendia descrever a ideia básica de uma sociedade experimental (em experimentação). Os detalhes concretos da economia, do governo, da vida social, e assim por diante foram incluídos somente como ilustração. Ao contrario do que ocorre em ficções utópicas típicas, nas quais esses pormenores são o ponto focal do livro, Walden Two vai além dos detalhes e mostra um método - o metódo experimental. Tomar os pormenores como recomendações de Skinner é uma interpretação equivocada do livro. Na verdade, a própria lógica da postura de Skinner, impediria que ele tivesse qualquer ideia definida acerca dos detalhes de Walden Two, porque esses detalhes deveriam evoluir com o tempo de experimentação e de seleção. Quem sabe se o sistema de crédito de trabalho, o sistema de governo por meio de consultas constantes à população ou o autodidatismo fuuncionariam? Em uma sociedade em experimentação, esses aspectos poderiam ser testados, modificados e conversavados ou descartados.
Ao longo dos anos, utópico ganhou significados adicionais como "inviável" ou "inexequível", e a obra Walden Two poderia ser chamada de utópica nesse sentido, Poder-se-ia dizer que experimentar em uma comunidade de mil pessoas é possivel, mas nunca poderia ser feito em um país com 300 milhões de pessoas, ou até mesmo em uma comunidade como Walden Two tivesse sucesso, ela sobreviveria como uma pequena ilha encerrada em si mesma. No livro, Skinner imaginou outras comunidade, semelhantes a Walden Two, brotando pelo país. Estava implícito que eventualmente, se um numero suficientemente grande de pessoas vivessem em tais comunidade, elas comecariam a influenciar o país.
É dificil saber se as suposições de Skinner se mostrarão correstas, pois as tantativas de instalar tais comunidades tiveram pouco sucesso. Uma delas, Twin Oaks, inicida na década de 1960 nos Estados Unidos, sobreviveu até a décadas de 1990; porém notícias recentes indicam que a prática da experimentação foi abandonada. Uma comunidade mexicana, Los Horcones, reteve a prática de experimentação, mas é muito pequena para ter muito influência.
Talvez o crescimento de prática de experimentação cultural não devesse ficar restrita a pequenas comunidade. Poderíamos argumentar que vários governos norte-americanos, emt todos os seus níveis, têm demonstrado uma tendência crescente, desde a crise de 1929, no sentido de realizarem experimentações com praticas culturais. Os jornais frequentemente descrevem projetos-piloto que testem novos modos de lidar com a coleta de lixo urbano, o uso de drogas, a gravidez na adolescência e o desemprego. Práticas empregadas em outras sociedades são taduzidas pa análise e possivel adoção. Um pessimista poderia apontar para o poder de grupos de interesse militantes que se opões à mudança, enquanto um otimista poderia dizer que, apesar de tudo, estamos caminhando leta e pausadamente em uma direção a uma sociedade em experimentação. Skinner provavelmente insistiria que devêssemos agir mais rápida e sistematicamente no trato de nossos problemas (comportamentais), antes que seja tarde demais.

O Prof. João Claudio Todorov fala sobre o Behaviorismo e a Análise do Comportamento

http://www.youtube.com/watch?v=PKe_b1LsU4k

Uma Verdade Inconveniente

http://www.youtube.com/watch?v=vcUhA7hG-Wc

A Historia das Coisas (Dublado)

http://www.youtube.com/watch?v=U8m4aNj0Rjk

Revolução Industrial

http://www.youtube.com/watch?v=tdBDGVI3-9o

O amor doentio de Hollywood por Che Guevara

http://www.youtube.com/watch?v=9nqncTVPc8k

Burrhus Frederic Skinner

Burrhus Frederic Skinner

Entrevista de B. F. Skinner a revista Veja (em 1974)

VEJA – EDITORA ABRIL – nº 316 – 25 DE SETEMBRO DE 1974PÁGINAS 3 a 6.ENTREVISTA: B. F. SKINNERUM PENSAMENTO POLÊMICOPARA ALGUNS, UM CHARLATÃO,E PARA OUTROS,MAIS IMPORTANTE QUE FREUD
Por Hugo Estenssoro
Dificilmente o nome de B. F. Skinner poderá provocar, no leigo, emoções de qualquer espécie. No mundo cientifico, porém, e especialmente no campo da psicologia, Skinner é sinônimo de polêmica virulenta. Polêmica sem amenidades nem deferências, na qual os campos estão brutalmente divididos em preto e branco.Para a maioria dos membros da Associação Psicológica Americana, de acordo com uma enquête feita em 1970, B. F. Skinner tornou-se a figura mais importante das ciências da mente no século XX – relegando Sigmund Freud ao segundo lugar. Fora dos Estados Unidos, todavia, ele é considerado um pseudocientista, capaz até mesmo de poluir a reputação da autentica pesquisa. Seus admiradores e seguidores vêem nele um ousado pensador arquitentando o mundo melhor do amanhã. Seus detratores o acusam de charlatão com suspeitas, e perigosas, feições fascistas.A controvertida carreira de B. F. (Burhus Frederick) Skinner começou obscuramente em 1948, com a publicação de um romance utópico, “Walden Two”(que com o tempo se converteria em livro recomendado nas universidades e mesmo num best seller de 23 edições). E somente cinco anos depois, com “Science and Human Behavior”, ele se elevaria ao posto de principal porta-voz da escola psicológica “behaviorista”, cujo objetivo é “considerar apenas os fatos que podem ser objetivamente observados no comportamento das pessoas em relação com seu meio ambiente”.Sete livros após, já com ampla reputação, instalado na cátedra de psicologia Edgar Pierce da Universidade de Harvard, Skinner escreveria o mais debatido de seus trabalhos: “Beyond Freedom and Dignity”(1972). Desafiadoramente, o titulo propunha justamente o que os críticos de Skinner haviam denunciado como resultado mais nocivo de suas teorias: um mundo (feliz, segundo Skinner, mas de pesadelo, segundo seus críticos) de homens controlados por manipulações psicológicas, “além da liberdade e da dignidade”. Embora aclamada em algumas publicações especializadas, a obra causou incontrolável revolta e uma avalancha de criticas esmagadoras – especialmente em um longo ensaio de Noam Chomski, um dos mais importantes pensadores americanos da atualidade. E Skinner decidiu publicar um novo livro pra se justificar. Sob o discreto título de “About Behaviorism”, ele começa por enunciar as vinte criticas mais freqüentemente feitas a suas idéias – e passa em seguida a refuta-las.É isso que faz, também, em parte na seguinte entrevista realizada em seu despojado escritório em Harvard. Aos 69 anos, Skinner conserva um orgulho sensitivo e nervoso que se reflete visivelmente em seu físico – ao mesmo tempo grande e frágil. Suas respostas têm sempre uma pontinha de impaciência.O homem, eliminadoDo campo das idéias
VEJA – Que fatores o levaram a formular suas teorias psicológicas?
SKINNER – O ponto de partida, acredito, foi a investigação das formas em que o comportamento – ao longo da escala zoológica – é afetado pelo meio ambiente. Minhas pesquisas, nesta direção têm ocupado mais de quarenta anos de minha vida. Passando de meios ambientes simples para outros gradualmente mais complexos, tentei observar como estes fatores afetam o comportamento animal. E, de maneira lenta mas segura, consegui progredir a ponto de explicar que o comportamento animal – tanto o humano quanto o de outras espécies – é totalmente definido pelo código genético das espécies. Isso se prova, naturalmente, através da evolução das espécies ao longo de milhões de anos, e da historia individual de cada membro de uma determinada espécie durante sua vida – a que deve somar-se, ainda, o meio ambiente em que se desenvolveram suas características individuais.
VEJA – Não seria uma visão relativamente tradicional de homem?
SKINNER – Só se considerarmos a questão superficialmente. A concepção tradicional de homem, na maior parte dos sistemas de idéias, é a de que ele mesmo se torna responsável por tudo o que faz. Certos sentimentos que ele exprime, os processos mentais eu o levam ao nível das idéias, e assim por diante. Estes conceitos, porém, têm sido superados pelo pensamento e pela ciência do nosso tempo. A “pessoa” que reside “dentro” do homem tem sido substituída pela história ambiental do individuo. Não mais falamos num ser originador, mas na sua história em relação ao ambiente ou se preferir, o mundo. Isso significa, naturalmente, que o homem como um ser criativo, tem sido eliminado do campo das idéias. Equivale a dizer que a visão tradicional do “homem autônomo”, dono de si mesmo, tem sido rejeitada. Na realidade, a idéia de autonomia do homem não passa de silogismo incorreto: dizer que uma pessoa age como quer agir não é uma verdadeira explicação de seu comportamento. Pois ainda não sabemos por que ela quis agir desta e não daquela maneira. Isso nos leva diretamente a examinar o meio ambiente como causa, como fonte de controle.Divagações sobre a lutaPela liberdade
VEJA – Seria esta, então, a origem de seu conceito pouco ortodoxo sobre a liberdade humana: o meio ambiente como fonte de controle do comportamento?
SKINNER – No caso da liberdade, acredito que a chamada “luta pela liberdade” tem sido, ao longo da nossa historia, a soma dos esforços do homem para escapar das condições adversas do meio ambiente. Isto é, das condições de vida perigosas, punitivas, irritantes, ou, para usar um termo geral, das condições adversas que determinam nossa conduta e nossas decisões. Não gostamos, por exemplo, de estar sujeitos a castigos – justos ou não – e portanto fugimos deles, ou nos comportamos de maneira que possamos evita-lo. E, quando conseguimos faze-lo, acreditamos ser livres e ter tomado a decisão de acordo com nossos desejos mais profundos. Mas o que temos descoberto em nossos estudos é que, quando uma pessoa está fazendo supostamente deseja fazer, na realidade não está fazendo o que quer. E, sim, está sendo forçada a fazê-lo por uma série de condicionamentos específicos. Nas experiências de laboratório feitas por mim, na década de 30, as conclusões eram claras: quando um determinado tipo de comportamento é castigado, as probabilidades de que esse tipo de comportamento se repita não se reduzidas de maneira alguma. Apenas se consegue, simplesmente, dar razoes ao sujeito da experiência para tratar de evitar o castigo não repetindo seus atos. É este o ponto de partida dos conceitos propostos no meu livro “Além da Liberdade e da Dignidade”. Nele eu assinalo que, se continuarmos a castigar nosso semelhantes em nome do conceito de “homem autônomo”, simplesmente estaremos perpetuando o sistema de provocar tipos de comportamento desejáveis através de técnicas punitivas. O problema é que temos medo de procurar soluções diferentes – soluções que implicariam a aceitação de que é o meio ambiente a raiz causal do comportamento e não a moral tradicional.
VEJA – Seus críticos assinalam que seu sistema de controle do comportamento apresenta um grave problema: se é tão efetivo, ou mais, quanto as causas tradicionais do nosso comportamento, há perigo de quem usará esse sistema e para que fins.
SKINNER – A questão, realmente, não é quem poderia usar o sistema. O que devemos perguntar-nos é: sob que condições o homem pode usar e abusar do poder, qualquer que seja a sua origem? Portanto, o objeto de nossa investigação deverá ser o todo da nossa estrutura cultural, pois ela torna possível que o poder, inerente à ciência do comportamento, seja usado desta ou daquela maneira. O meu ideal é um novo tipo de cultura e não um novo tipo de pessoa. O fator essencial está em estabelecer condições estruturais que tornem impossível, para qualquer pessoa, obter um poder absoluto. Tradicionalmente, historicamente, temos nos oposto aos tiranos e déspotas através de um sistema de controle do controle – o que é uma solução aceitável até certo ponto. Afinal, é esta a base da teoria da democracia. O povo controla seus governantes através de seus votos, ao mesmo tempo que os governantes controlam o povo através das leis. O problema, na minha opinião, é que esse sistema cultural pode não ser permanentemente viável, pois não estamos considerando a evolução das estruturas deste sistema e sua capacidade de enfrentar emergências futuras.
VEJA – Poderia nos dar alguns exemplos concretos da “tecnologia do comportamento” proposta pelo senhor para a criação de uma estrutura cultural controlada cientificamente?
SKINNER – O melhor exemplo é, sem duvida, o que podemos tirar do nosso sistema educativo. Normalmente, no esquema tradicional do processo educacional, da escola primaria até o ingresso na universidade, o estudante assiste às aulas só porque não ousa fazer o contrario, ou então é punido. Nossa educação é obrigatória, não damos ao estudante razões positivas para estudar; o resultado é que ele foge da aula sempre que pode. Seu objetivo é sair da escola o mais rapidamente. Mas também parece possível dar aos estudantes razões positivas, e não punitivas, para assistir às aulas. Organizar, por exemplo, um sistema de recompensas de maneira que o estudante deseje ir todos os dias à escola e aproveite sua educação. Este objetivo pode ser obtido de diversas formas. E a primeira, naturalmente, é encontrar os fatores que podem impulsioná-lo a procurar tal satisfação no estudo. Por exemplo, comida especial na hora do lanche. Ou privilégios de outras espécies, capazes de assegurar que o estudante vira a obter todos os benefícios, desde que guarde um comportamento satisfatório tato do ponto de vista pessoal como da comunidade na qual ele vive e viverá.
VEJA – O senhor é conhecido, entre outras coisas, pela sua famosa “maquina de ensinar”. Poderia explicar-nos os seus princípios gerais?
SKINNER – Embora tenha sido eu mesmo quem a batizou assim, o nome “maquina de ensinar” tem causado certa confusão. Por outra parte, se maquinas que cosem ou lavam são chamadas, respectivamente, maquinas de coser e de lavar, não vejo porque não seguir usando o termo. Feita essa observação, entre parênteses, minha “maquina de ensinar” consiste, muito simplesmente, em programar o material didático de maneira que o estudante seja recompensado pelos seus esforços não no fim do curso ou de seus estudos – o que é causa de baixa produtividade –, mas em cada uma das etapas de sua aprendizagem. Isto é, ao aprender uma lição, o aluno não é recompensado pelos seus esforços um mês depois, quando recebe a nota X, mas enquanto está trabalhando na lição. Se um aluno pode ver a resposta de um problema matemático apenas quando terminou de resolvê-lo, ele é estimulado por vários fatores: o triunfo de ter resolvido o problema corretamente ou o descobrimento da resposta correta. Se ele fica esperando a nota do professor, eu pode ter um valor punitivo, ele não tem verdadeiras razoes positivas para se interessas por problemas matemáticos. É fundamental entender que o organismo humano, em relação com o seu comportamento, é reforçado pela sua capacidade de efetividade.Para as crianças, umEstimulo positivo
VEJA – Poderia descrever a metodologia de suas pesquisas?
SKINNER – Bem, eu não faço mais pesquisas pessoalmente. Limito-me a usar o material produzido por gente mais jovem. Acho que já dei minha contribuição e estou em idade de tirar conclusões. De qualquer modo, uma experiência típica, das usadas no meu trabalho, pode ser descrita como um espaço determinado, sob completo controle do laboratorista. Este espaço contém fontes de estímulo que podem ser aplicadas ou retiradas: correntes elétricas, temperaturas variáveis, sistemas de alimentação, e assim por diante. Naturalmente, há também instrumentos para registrar as modalidades de comportamento. E, por fim, temos o que se chama “operandum”. Isto é, algo que o sujeito da experiência possa operar: uma chave, uma alavanca, ou outra coisa apropriada. O equipamento – num laboratório moderno – é altamente desenvolvido. Em termos gerais, nosso interesse fundamental está em saber a freqüência com que um organismo efetua este ou aquele ato, e assim medir a probabilidade de um determinado tipo de comportamento acontecer. A um nível superior, em pesquisas feitas com crianças (num programa em que as ensinamos a ler), elas, por exemplo, escutam uma gravação com determinadas instruções. Na página aberta de seu livro, suponhamos, poderia haver o desenho de um rato e, ao lado, duas palavras: “rato” e “mato”, unidas ao desenho com duas linhas A crianças deve marcar uma das linhas com uma caneta especial e, se a anotação for correta – aquela que leva a palavra rato -, a linha ganhará uma cor especial. Isto serve como um “reforço” imediato ao desejo de aprender da criança. O que nos leva, outra vez, ao sistema de “educação programada” desenvolvido por mim, do qual falamos anteriormente: o estudante sabe imediatamente se está certo ou não, o que cria um estimulo positivo.Os perigos do sistemaPunitivo
VEJA – Mas sistemas “punitivos” em prática não são igualmente efetivos? Afinal, os produtos do sistema educacional britânico vêm, invariavelmente, desses sistemas – e têm, uma média respeitável de capacidade profissional e intelectual.
SKINNER – Em certa medida são efetivos, sem dúvida alguma. O problema não é sua eficiência, mas o fato de que, ao lado de sua eficácia, esses sistemas proporcionam também efeitos indesejáveis. Por exemplo, quando alguém consegue se revoltar contra eles, não é sem trauma: e daí surgem os atos de violência, o crime, a apatia social. E isso pode ser visto em todo lugar entre os estudantes de hoje. Escapam da escola sempre que podem fazê-lo, atacam seus professores ou vandalizam a sala de aula – ou simplesmente tornam-se apáticos e não fazem nada. Só reagem a motivações negativas, como evitar um castigo. Não acredito que esta seja a melhor maneira de fazer as coisas. Se usarmos, ao contrario, “reforços positivos”, além de proporcionar educação – radicalmente oposta. O estudante passa a gostar de seus estudos.
VEJA – Ao contrário das condições de laboratório, o meio ambiente do nosso dia-a-dia é infinitamente complexo. Há alguma possibilidade de controlá-lo efetivamente?
SKINNER – Ocorre que nosso meio ambiente, em boa medida, já está controlado por muitos fatores, todos eles muito efetivos, mesmo se nem sempre o percebemos. Mas vamos para os exemplos: o meio ambiente industrial e comercial é controlado pelo sistema de incentivos – salários, negociações entre os empregados e empregadores, promoções. A mesma coisa na escola, com o sistema de diplomas, o uso da disciplina e outros métodos. A família, ao mesmo tempo, controla o meio ambiente íntimo da criança. Tais controles, naturalmente, não servem sempre para nossos propósitos. Mas é importante reconhecer que eles existem. Só assim podemos modificá-los de acordo com nossas necessidades e para nosso beneficio.
VEJA – Mas todos esses controles são independentes e, na maioria dos casos, conflitivos. Será possível chegar a coordená-los no meio de sua infinita complexidade?
SKINNER – É possível, sim, até certo ponto. Por exemplo, não é possível que os pais de uma criança comum sejam capazes de estabelecer condições de precisão absoluta – como num laboratório. Mas podemos lhes fornecer suficientes informações e conselhos para que consigam certos controles-chaves capazes de fazê-los dirigir sua criança a um comportamento ideal. O controle de um meio ambiente, com o propósito de provocar determinado comportamento, não precisa ser exato como o mecanismo de um relógio. Podemos obter resultados satisfatórios com ajustes de caráter apenas geral. Justamente, um dos grandes – e mais comuns – mal-entendidos a respeito de minhas idéias é o de que eu estou sugerindo o estabelecimento de controles de comportamento. Ora, nada menos certo: eu estou apenas advogando por uma racionalização e planejamento dos controles existentes, de acordo com a ciência do comportamento que estamos tentando desenvolver. Não que eu queira abolir a liberdade – no conceito humanista da palavra. Limito-me a assinalar que, na realidade, essa liberdade é ilusória, e essa ilusão tem conseqüências muito graves: não nos permite controlar os elementos que nos controlam.
VEJA – Um dos aspectos mais perturbadores de suas idéias é o papel do artista e do criador numa sociedade de comportamento controlado. Será possível produzir arte – ou arte original – nas condições impostas por uma sociedade deste tipo?
SKINNER – Certamente que sim. Você me faz essa pergunta em função do mal-entendido de que falei anteriormente: nossa sociedade atual não está livre de controles. Simplesmente não tem o tipo de controles – cientificamente organizados – que nos permitiriam uma sociedade melhor. Ora, se nossos artistas podem produzir obras de arte sob influência dos controles existentes, que não são os melhores possíveis, por que não poderão produzir grande arte sob controles de outro tipo, melhores?Um povo à beiraDa fome
VEJA – Algumas pessoas citam sistemas comunistas como exemplos de sociedades de “comportamento controlado”. Qual a sua opinião a respeito?
SKINNER – Os comunistas, pelo menos aqueles países que hoje são nominalmente comunistas, não praticam o que pregam. Mesmo assim, teoricamente, são sociedades de comportamento controlado. Mas, como eu disse referindo-me a outro tipo, oposto, de sociedade, a capitalista, a existência de controles não significa grande coisa. Todas as sociedades têm controles: a questão consiste, repito, em usar esses controles em nosso beneficio. Os controles das sociedades comunistas diferem dos controles dos países capitalistas só na direção oposta. Mas encontram-se no mesmo nível, em termos da ciência do comportamento, que os controles capitalistas. Há só uma diferença importante, e no plano teórico. Se um país como a União Soviética chegasse a realizar suas promessas mais idealísticas, haveria uma catástrofe. Kruschev prometeu ao povo soviético casa, comida e roupas gratuitas para 1980. Se isso jamais chegar a converter-se em realidade, os soviéticos não terão qualquer incentivo para trabalhar. Será o pólo oposto do caso da sociedade inglesa na época do próprio Karl Marx. Acreditava-se então que, para que o povo trabalhasse efetivamente, levando a produção ao Máximo, era necessário mantê-lo constantemente a beira da fome. Talvez essa situação extrema de controle negativo tenha influenciado Marx em sua concepção de um sistema sem incentivos imediatos (porque trabalhar “para o bem comum” não é um incentivo suficiente).
Postado por Ítalo Sobrinho

Skinner Condicionamento operante em pombos

http://www.youtube.com/watch?v=PT6qEaVIII4

Bandeira

Macunaíma

http://www.youtube.com/watch?v=SmhLlAGr8jc

Sérgio Buarque de Holanda

http://www.youtube.com/watch?v=W87JUujtrKU

Raizes do Brasil 1

http://www.youtube.com/watch?v=L5i6bTR5imE

Raizes do Brasil 2

http://www.youtube.com/watch?v=VlCtlKhVGEo

Raizes do Brasil 3

http://www.youtube.com/watch?v=sOJ0pKcl690

Olhos Azuis

http://www.youtube.com/watch?v=o_pS05t7liw

Olhos Azuis parte 2

http://www.youtube.com/watch?v=a6zCsXclMyY

Olhos Azuis Parte 3

http://www.youtube.com/watch?v=MYpuQAx6jn4

Modos de Sentir